O pré-candidato ao governo da Bahia e ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União) surpreendeu a todos e anunciou nesta quinta-feira, 4, como vice em sua chapa a empresária Ana Ferraz Coelho (Republicanos), de 40 anos, debutante na política e sobrinha do ex-governador Nilo Coelho (União), rei do agronegócio e atual prefeito do município de Guanambi. Curiosamente, o ex-governador foi um conhecido adversário do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, avô de ACM Neto, que faleceu em 2007.
O nome da empresária nunca havia sido sondado para a vaga, cuja disputa se dava entre o Republicanos e PDT - este, que já tem a vice da capital baiana.
Com a aliança inusitada, ACM Neto, agora, tem em sua chapa uma candidata que pode se tornar a primeira vice-governadora da Bahia, caso vença as eleições. O acordo também sacramenta uma dobradinha no setor da comunicação. CEO do grupo de Comunicação Aratu, afiliado do SBT no Estado - pertencente à família de Nilo Coelho -, Ana fará par com ACM Neto, cuja família está à frente da Rede Bahia, retransmissora da Rede Globo no Estado.
A chapa, que se completa com Cacá Leão (PP) para o Senado, será oficializada em convenção do União Brasil nesta sexta-feira, 5, prazo final para formalização de candidaturas.
O perfil de empresária jovem e dinâmica foi um dos argumentos de ACM Neto ao acolher a indicação do Republicanos durante o anúncio. Embora tenha frisado que a escolha foi do aliado, ACM Neto disse que a indicação casou com o seu desejo de ter uma chapa "jovem", com uma representação feminina e "olhar de fora e para o futuro". O mais velho do trio, disse, é ele próprio, com 43 anos.
Com isso, o pré-candidato também dá pistas de como deve trabalhar a imagem da chapa durante a campanha, que terá como principal adversário o candidato do PT a governador, Jerônimo Rodrigues, que tem como vice Geraldo Junior (MDB), partido na Bahia comandado pelos irmãos Geddel e Lúcio Vieira Lima.
Ex-inimigos
Ana Coelho é filha de Silvio Roberto Coelho, irmão do ex-governador Nilo Coelho, que foi inimigo político de ACM, o avô. Apesar de ter sofrido perseguição do carlismo e do próprio ACM, o empresário do agronegócio hoje é correligionário de ACM Neto e unge a candidatura da sobrinha Ana como vice.
Nilo Coelho, apelidado de "Nilo Boi" por ser grande criador de gado, provocou contenda com ACM quando, em 1986, entrou no então PMDB para ser vice na chapa de Waldir Pires, que venceu o candidato carlista, Josaphat Marinho. Quando Pires deixou o governo para ser vice na chapa à Presidência ao lado de Ulysses Guimarães, em 1989, Nilo assumiu o governo do Estado.
ACM, então, passou a acusar Nilo Coelho de corrupção por supostamente ter enriquecido após assumir o governo. Ele teria adquirido a TV Aratu, fazendas e outros bens. Carlistas também o acusaram de ter puxado 200 km de rede elétrica para suas fazendas na região de Guanambi, onde é prefeito pela quarta vez. Nilo escapou ileso dessas acusações. Considerado um dos homens mais ricos da Bahia, na sua declaração de bens de 2020 consta um patrimônio de mais de R$ 59 milhões.