Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu nesta terça-feira que o banco dos Brics possa ajudar a Argentina por meio de garantias para as exportações brasileiras para o país vizinho.
"Nós nem queremos que eles emprestem dinheiro para a Argentina. O que nós queremos é que eles nos deem garantias, que aí facilita muito a relação do Brasil com a Argentina", disse Lula, em declaração à imprensa ao lado do presidente argentino, Alberto Fernández, após longa reunião no Palácio da Alvorada.
A fala do presidente deixa claro que o maior entrave para o acordo com os argentinos em uma política de financiamento de exportações para o país é a necessidade de colaterais a serem apresentadas pela Argentina para garantir o pagamento dos créditos.
A intenção do presidente é que o Brasil defenda junto aos Brics a criação de um fundo garantidor para apoiar a Argentina e outros países.
Lula explicou que, antes de se dirigir para a declaração conjunta, conversou com Dilma Rousseff, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o banco dos Brics --bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Dilma disse que o presidente chinês, Xi Jinping, enviou seu ministro das Relações Exteriores a Xangai para conversar com ela, após pedido do presidente brasileiro de ajuda à Argentina.
Dilma explicou que se chegou à conclusão que para poder ajudar é preciso que os governadores do banco, que são os ministros da Fazenda dos Brics, mudem um artigo que permita criar o fundo. O governo brasileiro pretende enviar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para a reunião dos governadores do banco, dia 29, em Xangai, para defender a proposta.
Fernández foi a Brasília com uma comitiva em busca de socorro financeiro. Ao mesmo tempo, o governo brasileiro quer encontrar uma maneira de manter as exportações para a Argentina.
Um esquema em que o Brasil financia as empresas e recebe garantias da Argentina com liquidez internacional para evitar prejuízos, já estava previamente desenhado.
O que se tem até agora é um modelo que prevê a abertura de crédito de bancos brasileiros para importadores argentinos e o uso do fundo garantidor de exportações (FGE) pelo governo brasileiro para garantir o pagamento dos empréstimos. Uma ideia é reativar as linhas de crédito ao exterior do BNDES.
Nessa operação, segundo explicou à época uma fonte da equipe econômica, o banco paga diretamente o exportador brasileiro, com garantia do Tesouro nacional, enquanto o Brasil recebe da Argentina o mesmo valor, depositado em Nova York, de títulos com liquidez internacional.
As garantias colaterais poderiam ser, por exemplo, títulos chineses, contratos de compra de gás, de trigo. Garantias com liquidez internacional que permitam ao Brasil, no caso de não pagamento pelo importador argentino, acessá-las para compensar. Em conversa com os jornalistas nesta terça, Haddad disse que a oferta de garantias pela Argentina seguia em discussão.
Em sua declaração, Lula se comprometeu a fazer o que estiver ao alcance para ajudar o país vizinho.
"Do ponto de vista político eu me comprometi com meu amigo Alberto Fernández que vou fazer todo e qualquer sacrifício para que a gente possa ajudar a Argentina nesse momento difícil", disse Lula, acrescentando inclusive falar com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para tirar "a faca do pescoço da Argentina".
O encontro de quase quatro horas entre os dois presidentes e as equipes econômicas dos dois países, além de outros membros do primeiro escalão --inclusive o vice-presidente Geraldo Alckmin-- terminou sem uma solução definitiva. As equipes dos dois governos irão se reunir novamente na semana que vem para continuar tentando acertar os detalhes do acordo.
“Fernández é um companheiro que chegou muito apreensivo e acho que vai voltar mais tranquilo. É verdade, sem dinheiro, mas com muita disposição política, porque quando a gente fala em encontrar uma saída para a Argentina nós estamos falando da América do Sul, estamos falando do Mercosul e estamos falando do mais importante parceiro comercial do Brasil em toda a América do Sul, que é a Argentina”, disse Lula.