Basiléia (Suíça), 28 jun (EFE).- O Banco de Compensações
Financeiras (BIS, na sigla em inglês) adverte do risco da longa
manutenção das taxas de juros nos níveis mínimos atuais já que
poderia ser o germe de uma nova crise financeira.
Em seu 80º relatório anual, publicado hoje, o BIS analisa a
situação da economia entre 1º de abril de 2009 e passado 31 de março
e pede aos Governos que façam os deveres, principalmente reduzir os
déficit fiscais para evitar o surgimento de uma nova crise.
A política monetária continua sendo muito expansiva em todo o
mundo.
Os bancos centrais de alguns dos países com maior crescimento
começaram a retirar os estímulos aplicados durante a crise.
Os bancos centrais da Austrália, Brasil, a Índia, Israel, Malásia
e Noruega subiram as taxas de juros.
Em termos reais, descontando a inflação, as taxas estão em níveis
próximos a zero na zona do euro e são negativas no Reino Unido e nos
EUA. No Japão, a leve deflação voltou a situar as taxas reais acima
de zero.
Se as taxas de juros são muito baixas podem distorcer as decisões
de investimento, colocar riscos para a estabilidade financeira.
Os bancos centrais seguem dominando alguns segmentos dos mercados
financeiros, o que pode distorcer a avaliação de alguns bônus e
empréstimos financeiros importantes e desalentar a necessária
participação no mercado de particulares e instituições privadas.
Além disso, com o domínio dos bancos central de alguns segmentos
financeiros aumenta o risco moral ao assinalar que existe um
comprador de último recurso para certos instrumentos.
Umas taxas de juros oficiais baixos e de taxas a longo prazo mais
elevadas aumenta os lucros que os bancos podem obter de pedir
empréstimos a curto prazo e outorgá-los a longo prazo.
A compra de ativos expôs aos bancos centrais a um risco de
crédito considerável que poderia expô-los a pressões políticas.
Manter baixas as taxas poderia atrasar os ajustes nos balanços do
setor público. Os Governos podem reorientar seu perfil de dívida em
direção a um financiamento a curto prazo e reduzir os juros.
Esta estratégia expõe sua situação fiscal a incrementos das taxas
de juros oficiais e isso pode fazer temer pela independência dos
bancos centrais.
Chegou o momento de perguntar-se quando e como começar a
prescindir destas contundentes medidas, diz o BIS.
Usando uma metáfora médica para descrever o estado de saúde do
sistema financeiro, o BIS diz que "a conjunção das vulnerabilidades
persistentes no sistema financeiro com os efeitos secundários de um
período tão prolongado de terapia intensiva poderia induzir a
recaída do paciente".
A crise de 2007-09 sugere que os excessos financeiros pelas taxas
de juros oficiais baixos acabam tendo efeitos devastadores.
É possível que os bancos centrais tenham que subir as taxas de
juros, antes do que sugeririam por si sós as perspectivas
macroeconômicas.
Atualmente, a política monetária se enfrenta a um dilema: um
processo prematuro de alta das taxas de juros poderia truncar a
recuperação mas um endurecimento demais tardio poderia demorar
demais o processo de ajuste, o que implicaria um sistema financeiro
menos estável a médio prazo.
O BIS recomenda sinalizar com tempo a intenção de subir as taxas
de juros já que uma alta inesperada poderia ter graves consequências
para o setor bancário. EFE