Por José Roberto Gomes
SÃO PAULO (Reuters) - Produtores rurais, pecuaristas, madeireiros e comerciantes voltaram a bloquear nesta sexta-feira a rodovia BR-163 nas proximidades de Novo Progresso (PA), em um protesto que já dura quase uma semana na região e que reduziu em 75 por cento o fluxo de caminhões com grãos para o terminal fluvial de Miritituba, que integra a logística de exportação pelo Norte do Brasil.
As manifestações são contra o veto do presidente Michel Temer à medida provisória 756, que alterava os limites da Floresta Nacional do Jamanxim, disse à Reuters o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado do Pará (Aprosoja-PA), Vanderlei Ataídes. O setor rural demanda o uso de parte da reserva ambiental para exploração comercial, como previa a MP.
A BR-163 é uma importante ligação entre as áreas produtoras de grãos de Mato Grosso e os terminais fluviais do Arco Norte, mais nova rota de exportação de soja e milho do país, que tem ajudado a reduzir congestionamentos nos portos do Sul/Sudeste diante de safras recordes do país.
"Os embarques já estão ocorrendo a 25 por cento do que poderiam ser... Em mais quatro ou cinco dias, teremos dificuldades para embarcar (por Miritituba, devido à falta do produto)", afirmou à Reuters o gerente de economia da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Daniel Furlan Amaral.
Amaral explicou que o terminal passou a receber cerca de 6 mil toneladas de grãos por dia, ante 25 mil toneladas por dia esperadas para este mês.
A partir de Miritituba, barcaças carregadas navegam pelos rios da Amazônia até os portos do Arco Norte, como Barcarena e Santarém, a partir dos quais partem os navios para outros países.
"A programação de julho já está comprometida", ressaltou Amaral.
Segundo ele, o transporte de milho, cuja safra está em pico de colheita no Mato Grosso, é o mais afetado, mas também há prejuízos para carregamentos de soja.
Caso ocorram cancelamentos de embarques, o prejuízo total na operação de escoamento poderia chegar a 400 mil dólares por dia, calculou.
Conforme Ataídes, da Aprosoja, a BR-163 foi "totalmente bloqueada" nesta sexta-feira. Ele disse ter recebido relatos de 30 quilômetros de filas de caminhões na região de Novo Progresso, no sudoeste do Pará.
A Reuters tentou falar com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Pará para comentar o assunto, mas não foi possível contato telefônico. Contatada, a PRF em Brasília afirmou que apenas os policiais do Pará tinham informações.
Segundo o dirigente da Aprosoja, a situação ficou mais tensa na noite de quinta-feira, após alguns manifestantes atearem fogo em uma carreta que transportava veículos do Ibama. Ataídes, que não presenciou o caso, disse não ter conhecimento sobre quem seria o responsável pelo incêndio.
Oito caminhonetes novas foram destruídas, segundo o Ibama. Os veículos seriam entregues na gerência executiva do instituto em Santarém (PA) para equipar as bases da BR-163.
Equipes da Polícia Federal (PF) e da PRF foram acionadas para apurar quem são os responsáveis pelo incêndio, segundo o Ibama.
Em nota, a presidente do Ibama, Suely Araújo, determinou o bloqueio preventivo de todas as serrarias da região de Novo Progresso no sistema do Documento de Origem Florestal (DOF) após o "atentado".
Ataídes, da Aprosoja-PA, acrescentou que há relatos de que as manifestações continuarão, digirindo-se para o município de Moraes Almeida (PA).