SÃO PAULO (Reuters) - Os protestos de caminhoneiros contra a alta do diesel continuam em 24 Estados e no Distrito Federal e afetam alguns portos, incluindo o de Santos (SP), o maior e mais importante do país, mesmo após o anúncio na véspera de um acordo entre a categoria e o governo.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) destacou que o Rio Grande do Sul lidera no número de bloqueios, com 74 no total. O Paraná vem logo na sequência, com 72, enquanto Minas Gerais e Mato Grosso do sul aparece com 51 e 42, respectivamente.
De acordo com a assessoria de imprensa da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), o fluxo de caminhões no porto de Santos praticamente não ocorre e verifica-se redução nas operações de recepção e entrega de mercadorias pelos terminais, embora as operações de carga e descarga de navios continuem a ser realizadas.
No porto de Paranaguá (PR), a última atualização é de que os protestos diminuíram o movimento de cargas em 27 por cento ante o normal para esta época do ano. O terminal registrou uma queda nas exportações de granéis, ao passo que a importação de fertilizantes foi interrompida em berços de atracação em que o transporte da carga é feito por caminhões.
Na Via Dutra, principal eixo de ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro, há ao menos quatro pontos de interdição, nos municípios paulistas de Jacareí, Pindamonhangaba e Lorena e nos fluminenses de Barra Mansa e Seropédica.
Na Anhanguera, que liga a capital paulista ao interior do Estado, há bloqueios tanto na chegada a São Paulo quanto na região de Limeira.
Há também manifestações na Fernão Dias, rodovia entre São Paulo e Minas Gerais. De acordo com a concessionária que administra a estrada, são 16 bloqueios ao longo da via, espalhados nos dois Estados.
A paralisação dos caminhoneiros tem levado ao desabastecimento em várias cidades do país. Postos ficaram sem combustíveis, o que fez com que o tráfego em grandes cidades, como São Paulo, fosse reduzido significativamente no horário de pico da manhã desta sexta. A falta de combustíveis também afetou várias cidades do Rio de Janeiro, inclusive a capital fluminense.
Os protestos permaneceram nesta sexta mesmo após o governo do presidente Michel Temer e representantes da categoria anunciarem na noite de quinta, após sete horas de reunião, um acordo que previa o congelamento do preço do diesel nos níveis anunciados pela Petrobras (SA:PETR4) nesta semana por 30 dias.
Em troca, os representantes dos caminhoneiros consultariam a categoria para suspender a greve por 15 dias.
Pelo acordo, o Congresso também votará um projeto de lei que estabelece um preço mínimo para o frete, os reajustes da Petrobras serão feitos a cada 30 dias --não mais diariamente-- e a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide) sobre o diesel será zerada.
Ao anunciar o acordo, o governo fez questão de enfatizar que ele não alterará a política de preços da Petrobras, e que a União compensará a estatal por eventuais perdas. A estimativa é de um custo da ordem de 5 bilhões de reais.
O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, disse que o governo investigará se houve locaute, quando empresários impedem funcionários de trabalharem, na paralisação dos caminhoneiros.
"Nós temos indícios de que existe uma aliança, um acordo, entre os caminhoneiros autônomos, as distribuidoras e as transportadoras", disse Jungmann.
"Isso é grave, porque isso apresenta indícios de locaute, evidentemente que nós estamos verificando isso, porque locaute é ilegal", acrescentou.
Na véspera, o presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, disse que as transportadoras aderiram à paralisação.
Os protestos têm levantado ainda temores quanto ao risco sanitário no país, à medida que o fornecimento de rações e o transporte de animais e cargas refrigeradas estão comprometidos pelas manifestações.
(Por José Roberto Gomes)