Arena do Pavini - As indicações das corretoras para junho mostram um aumento da cautela dos analistas diante das turbulências que provocaram a forte queda do Índice Bovespa em maio e que podem continuar neste mês. Por isso, entre 11 corretoras, há uma maior diversificação e um número também maior de papéis indicados, com um máximo de cinco indicações para Itaú Unibanco PN. Petrobras, que esteve no centro das turbulências da greve dos caminhoneiros, perdeu três indicações neste mês, diante da incerteza com relação à sua política de preços e à intervenção do governo em sua gestão.
A retirada das ações ocorreu antes mesmo do anúncio da saída do presidente da empresa, Pedro Parente, divulgada na sexta-feira pela manhã, quando os relatórios já haviam sido enviados pelas corretoras. Parente foi substituído por Ivan Monteiro, diretor financeiro da estatal, o que é um indício de continuidade da política de preços, reforçada pelo reajuste da gasolina na própria sexta-feira. Mas o mercado ainda vai avaliar até que ponto a autonomia da empresa vai ser mantida.
Guide: risco eleitoral
Uma das corretoras que retirou Petrobras de sua carteira mensal foi a Guide Investimentos, em meio às incertezas quanto a interferência do governo na atual política de preços da estatal e risco eleitoral. “Acreditamos que o papel continue com alta volatilidade no curto prazo”, diz a corretora, que acrescenta, porém, que segue com “uma visão construtiva no longo prazo para a estatal”. “Vale destacar o Plano Estratégico e Plano de Negócios e Gestão 2018– 2022, que tem como foco: (a) redução da alavancagem financeira; (b) redução nos investimentos futuros e significativo corte de custos operacionais; e (c) foco na gestão estratégica empresarial. Assim, a empresa deve continuar a se beneficiar — no longo prazo — de alguns fatores: (i) processo de vendas de ativos; (ii) melhora operacional, com ganhos de eficiência e produtividade; e (iii) contínua desalavancagem financeira.
Mudanças além de Petrobras
A Guide promoveu uma grande renovação de sua carteira mensal. “A estratégia adotada foi reduzir a volatilidade na carteira, retirando ativos com betas mais alavancados, e incluir papéis mais defensivos”, diz a corretora. “Neste momento, julgamos, portanto, necessário aumentar exposição em nomes relacionados à empresas cíclicas, serviços financeiros, e empresas exportadoras (que se beneficiam de um dólar mais forte)”. Assim, a corretora retirou Petrobras, Equatorial (SA:EQTL3), Marcopolo (SA:POMO4) e Usiminas (SA:USIM5), para incluir Braskem, IRB Brasil Re, Tupy e Telefônica Brasil. “Ainda frisamos que seguimos com uma estratégia de diversificação e maior seletividade no que diz respeito à carteira”, diz a Guide em relatório. E acrescenta que , no médio e no longo prazos, as perspectivas para o Ibovespa seguem construtivas, apesar da instabilidade para ativos de risco local. O dólar tende a continuar em patamar mais elevado, ao redor de R$3,40 a R$3,70.
Santander: mudança de visão de curto e médio prazo
Também o Santander (SA:SANB11) retirou Petrobras da carteira do mês. “Infelizmente, a decisão inesperada da companhia em reduzir o preço do óleo diesel distribuído nas refinarias em 10%, anunciada no último dia 23 de maio, alterou nossa visão positiva sobre as ações da Petrobras num horizonte de curto a médio prazo”, diz o banco em relatório.
Embora o próprio então presidente, Pedro Parente, tenha defendido que a decisão tomada pela empresa foi uma medida excepcional para contribuir com as reivindicações dos caminhoneiros e não compromete a execução da política de preços, dado que o desconto concedido valerá apenas por irrevogáveis 15 dias, o banco diz que só pode confirmar se a companhia honrará este compromisso no próximo dia 8 de junho, quando termina o período proposto. “Além disso, o acordo firmado entre o governo e os representantes dos caminhoneiros, de ressarcir a Petrobras a partir do 16º dia que o diesel permanecer com seu preço fixo, não foi totalmente esclarecido”, diz o Santander.
O cálculo deste ressarcimento e a forma como a empresa receberá estes recursos de volta não estão claros, o que o Santander vê como um risco adicional ao investimento da Petrobras. “Por fim, é natural imaginar que o tema da política de preços da estatal será explorado pelos presidenciáveis em suas respectivas campanhas, dada a repercussão atual, o que põe risco a manutenção dos ajustes na frequência e metodologia que são feitos hoje”, afirma o relatório.
Piora da governança
Para o Santander, os acontecimentos atuais deterioraram a percepção de governança corporativa da companhia, mas não sua evolução operacional, uma vez que os resultados trimestrais continuarão sólidos e seu plano de desinvestimento não será alterado. “Dito isto, continuaremos monitorando os desdobramentos futuros sobre PETR3 (SA:PETR3), de forma a retornar à posição num momento mais oportuno.”
XP, muitas incertezas
Já a corretora XP Investimentos retirou Petrobras da carteira. “dada a maior percepção de risco para a política de preços da Petrobras com os anúncios de reduções no preço de diesel”. A corretora acredita que existem muitas incertezas quanto ao impacto dos anúncios nas margens de refino e nos resultados da empresa como um todo, o que deve provocar volatilidade no curto prazo.
A corretora Coinvalores manteve Petrobras entre suas recomendações, mas reduziu sua participação na carteira de 10% para 6%.
Tendência de baixa do índice pode continuar
Para o BB Investimentos, do Banco do Brasil, a tendência declinante do Índice Bovespa iniciada em maio deverá prevalecer ao longo de junho. Os investidores, após a recente temporada de balanços de empresas, prosseguirão precificando a perspectiva de um crescimento menor do país, cuja perspectiva afeta diretamente os lucros das companhias.
O quadro eleitoral ainda indefinido acrescenta um componente a mais de incerteza, avalia o BB. “Ademais, o panorama externo ainda poderá incrementar mais volatilidade, por conta dos imbróglios americanos de tarifas de importação, da pendente guerra comercial com a China, da retirada do acordo nuclear com o Irã e outros nos quais pooderá ainda se envolver no curto prazo”, diz o banco de investimentos. Também, ainda pairam dúvidas sobre as expectativas de altas maiores altas de juros pelo Federal Reserve, banco central americano ao longo deste ano.
No cenário interno, o BB lembra que a manutenção da taxa de juros Selic em 6,5%, quando se esperava uma redução de 0,25 ponto na reunião de maio, foi mal recebida pelo mercado, bem como pesou a turbulência da greve dos caminhoneiros, que afetou diversos setores da economia e ainda tende a deixar sequelas em relação a percepção de mercado no tocante ao crescimento interno.
Confira abaixo as ações mais indicadas por 11 corretoras para junho:
As preferidas das corretoras | |
Junho | Indicações |
Itaú Unibanco (SA:ITUB4) | 5 |
B3 (SA:B3SA3) | 4 |
Petrobras (SA:PETR4) | 4 |
Raia Drogasil (SA:RADL3) | 4 |
Rumo Logística (SA:RAIL3) | 4 |
Suzano (SA:SUZB3) | 4 |
Banco do Brasil (SA:BBAS3) | 3 |
Braskem (SA:BRKM5) | 3 |
Cosan (SA:CSAN3) | 3 |
IRB Brasil (SA:IRBR3) | 3 |
Klabin (SA:KLBN11) | 3 |
Natura (SA:NATU3) | 3 |
Tupy (SA:TUPY3) | 3 |
Vale ON (SA:VALE3) | 3 |
Telefônica (SA:VIVT4) | 3 |
Por Arena do Pavini