Por Joanna Plucinska e Anna Voitenko
SHEHYNI, Ucrânia (Reuters) - Valery Petrovich Sorokin, de 66 anos, não queria deixar sua casa nos arredores de Kharkiv. Ele sofre de artrite e tem dificuldades para se locomover. Mas, um mês depois do início da guerra, com as bombas russas caindo ao seu redor, a família lhe disse que ele tinha que ir para a Polônia com eles.
"Há aviões o tempo todo e o som de bombardeio o tempo todo, é muito alto", disse ele à Reuters, em lágrimas, enquanto sua família se amontoava sob tendas verdes montadas para proteger os refugiados da chuva ao esperarem na fronteira de Shehyni, na Ucrânia.
"Eles fizeram isso, eles fizeram essas coisas horríveis. É difícil de acreditar", afirmou, engasgando com as palavras. "Para quê? Por ambições? As ambições do 'governante'?"
Sorokin era um dos centenas de refugiados ucranianos que esperavam na chuva para atravessar de Shehyni para Medyka, na Polônia, na quinta-feira. Muitos estavam em cidades como Kharkiv e Mariupol, no leste, até ficarem sem suprimentos.
O presidente russo, Vladimir Putin, enviou suas tropas para a Ucrânia em 24 de fevereiro no que ele chama de "operação militar especial" para desmilitarizar e "desnazificar" a Ucrânia. A Ucrânia e o Ocidente dizem que Putin lançou uma guerra de agressão não provocada.
Mais de 4 milhões de ucranianos fugiram para o exterior desde o início da invasão, com a maioria cruzando para a Polônia, que tinha a maior comunidade ucraniana da região com cerca de 1 milhão antes da guerra. Até agora, 2,4 milhões de ucranianos entraram na Polônia, de acordo com o serviço de guarda de fronteira polonês.
Depois de não conseguir capturar uma única grande cidade ucraniana em cinco semanas de guerra, a Rússia diz que mudou seu foco para o sudeste, onde apoia os separatistas desde 2014.
A área inclui a cidade portuária de Mariupol, cenário da pior emergência humanitária da guerra, onde as Nações Unidas acreditam que milhares de pessoas morreram após mais de um mês sob cerco russo e bombardeio implacável.
Alena Kogemiakiva, de 25 anos, carregava todos os seus pertences restantes, incluindo seus dois ratos de estimação em uma pequena mochila.
"Eu estava em Mariupol o tempo todo", afirmou. "Nós apenas observamos lentamente como o número de nossas casas estava diminuindo a cada dia. Todo mundo que eu conheço não tem uma casa agora."
A professora Tatiana Victorovna Dumskava disse que esperou até 22 de março para deixar Mariupol. Foi quando ela e seu marido tinham "dois goles de água cada" que ela percebeu que não tinha escolha a não ser ir embora.
"Meu apartamento estava queimando bem na frente do meu rosto. Não tínhamos luz, gás, água", disse ela à Reuters. "Nosso bloco de apartamentos foi destruído por bombardeios. Não havia mais varanda."
Mas ela contou que, apesar da destruição, espera poder voltar para casa de alguma forma.
"Queremos muito voltar, voltar para a Ucrânia. Só queremos ficar em um lugar tranquilo por alguns meses e depois voltar para casa", disse ela. "Eu não posso nem imaginar não voltar."