Por Marcelo Teixeira e Stephanie Kelly e Roberto Samora
NEW YORK/SÃO PAULO (Reuters) - O Brasil tem uma escolha difícil entre enfrentar um poderoso lobby agrícola local e irritar um aliado importante, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, uma vez que uma decisão importante sobre importação de etanol se aproxima.
Uma cota brasileira de importação de etanol isenta de tarifa inteiramente usada por produtores dos EUA deve expirar em 31 de agosto, a menos que o governo a renove. Um volume de 750 milhões de litros por ano sem taxa seria bem-vindo para os fabricantes norte-americanos, enquanto a pandemia atinge seus negócios.
Os produtores de etanol e a Casa Branca esperam uma renovação da cota isenta de impostos, e Trump pediu ao governo do presidente Jair Bolsonaro que elimine qualquer tarifa, atualmente em 20%, sobre as importações acima dessa cota.
Trump gostaria de agradar produtores de etanol e de milho antes da eleição dos EUA em um momento em que as vendas de combustível estão baixas devido à pandemia, que levou ao fechamento de fábricas e reduziu a demanda por milho.
Bolsonaro, entretanto, foi eleito com forte apoio do poderoso lobby agrícola do país. A indústria local de açúcar e etanol, também atingida pela pandemia, pediu ao governo que deixe a cota expirar, acabando com qualquer importação isenta de impostos.
Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), disse que qualquer liberalização no comércio de etanol deve ser seguida por um movimento para reduzir o imposto de importação dos EUA sobre o açúcar brasileiro.
A Unica acredita que de outra forma não haverá ganho para o Brasil renovar a cota ou eliminar a tarifa.
Geoff Cooper, chefe do grupo de etanol norte-americano RFA, disse que o Brasil não enfrenta impostos sobre suas vendas de etanol aos Estados Unidos e que seria justo ter regras semelhantes no comércio entre os dois produtores de biocombustíveis.
Trump sugeriu uma possível retaliação se o Brasil decidir restabelecer as tarifas sobre o comércio de etanol durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca na última segunda-feira.
"Eu acho que, no que diz respeito ao Brasil, se eles colocarem tarifas, temos que ter uma equalização de tarifas", disse. "E você pode ver algo nisso muito em breve."
Um representante do Ministério da Economia do Brasil disse que o governo ainda está "construindo sua posição" sobre o assunto e não quis comentar mais.
O representante comercial dos EUA não respondeu solicitação de comentários.
Os dois principais produtores globais de etanol vendem e compram regularmente um do outro.
O Brasil tem um nicho de mercado na Califórnia porque seu etanol de cana é considerado pelo Estado como tendo uma pegada de carbono menor em comparação com o de milho dos EUA. Por isso, o país obtém um prêmio de preço.
Os EUA vendem etanol para a Região Nordeste do Brasil, devido ao frete marítimo favorável do Golfo.
Em 2019, o Brasil vendeu o equivalente a 628 milhões de dólares em etanol para os Estados Unidos. Os EUA exportaram 543 milhões de dólares em combustível para o Brasil.
Com as vendas internas em queda nos dois países, ambos buscam impulsionar as vendas externas.