Por Leonardo Goy
BRASÍLIA (Reuters) - O plenário do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) rejeitou por unanimidade nesta quarta-feira a compra da rede de distribuição de combustíveis Alesat, quarta maior do país, pela segunda maior do setor, Ipiranga, do grupo Ultrapar (SA:UGPA3), por cerca de 2,2 bilhões de reais.
Prevaleceu no plenário o voto do relator, conselheiro João Paulo de Resende, pela rejeição do negócio. Em seu voto, o relator explicou que a reprovação deu-se pela falta de acordo com as empresas quanto às condições a serem aplicadas para aceitar a operação que geraria problemas relevantes de concorrência para os postos independentes, conhecidos como "bandeira branca".
As ações da Ultrapar, que chegaram a operar em alta antes do voto de Resende mais cedo, fecharam em queda de 4,92 por cento, enquanto o Ibovespa subiu 0,93 por cento.
A Ipiranga estava de olho na aquisição da Alesar para complementar sua rede de distribuição no Nordeste. A Ale afirma ter cerca de 2 mil postos e 260 lojas de conveniência. Já a Ipiranga tem cerca 7.240 postos e rede de pouco mais de 1.900 lojas de conveniência.
O parecer inicial de Resende defendia a venda de ativos da Alesat em 12 Estados, o equivalente a 65 por cento das operações da empresa. As empresas, porém, não aceitaram essa condição e propuseram um novo acordo, de conteúdo sigiloso, que foi negado pelo plenário do Cade.
Em fevereiro, a superintendência-Geral do Cade já havia ponderado que a compra da Alesat poderia resultar em aumento no preço na distribuição e na revenda de combustíveis devido ao aumento de poder de mercado da Ipiranga. No mesmo mês, o Cade já tinha aprovado associação entre a Ipiranga e a norte-americana Chevron para a criação de uma nova empresa para produção e comercialização de lubrificantes.
Em comunicado ao mercado, a Ultrapar afirmou apenas que a reprovação da operação pelo Cade implica que o contrato para a compra da Alesat "restou automaticamente resolvido, sem qualquer penalidade de parte a parte". Na semana passada, o conselho de administração da Ultrapar havia autorizado a Ipiranga a captar 1,5 bilhão de reais em debêntures de cinco anos, a 105 por cento do CDI. Na ocasião, a Ultrapar não informou o destino dos recursos captados.
Já a Alesat afirmou em comunicado que "está saudável, coesa, bem posicionada e sólida" e que seguirá atuando "de forma independente, com foco no plano de expansão de sua rede embandeirada e dando continuidade aos seus demais investimentos, buscando, assim, a consolidação de sua posição nos mercados onde atua".
A Alesat é controlada em partes iguais pelo grupo mineiro Asamar e uma holding do empresário Marcelo Alecrim, também presidente da companhia.
A reprovação da operação ocorreu cerca de um mês depois que o Cade rejeitou a compra do grupo de educação superior Estácio pela Kroton (SA:KROT3), que criaria uma gigante do ensino superior privado no país.
Segundo o Cade, a compra da Alesat pela Ipiranga geraria significativo impacto na capacidade de concorrência no mercado por parte de postos regionais e de bandeira branca abastecidos atualmente pela Alesat.
"A operação elimina, em grande parte dos mercados analisados, a principal distribuidora capaz de abastecer postos interessados em permanecer como bandeira branca ou em ter uma alternativa negocial de embandeiramento às três grandes distribuidoras de nível nacional”, afirmou o relator se referindo à Ipiranga, Petrobras (SA:PETR4) e Raízen.
(Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr., em São Paulo)