Por Gabriel Codas
Investing.com - Na parte da manhã desta quarta-feira na bolsa paulista, as ações da Cielo (SA:CIEL3) lideram as perdas do Ibovespa após divulgação do balanço ontem após o fechamento do mercado. A companhia reportou nesta terça-feira prejuízo trimestral, afetada pelos efeitos econômicos da Covid-19, enquanto ajusta sua estrutura de custos e de capital para enfrentar um cenário de forte queda dos resultados em meio ao acirramento da concorrência no setor de meio de pagamentos.
A maior empresa de pagamentos eletrônicos do país anunciou prejuízo líquido de R$ 75,2 milhões entre abril e junho, ante lucro de R$ 428,5 milhões um ano antes. A mediana das projeções dos analistas de mercado era de um lucro líquido de R$ 50,22 milhões no período, de acordo com dados da Refinitiv.
Por volta das 10h35, os ativos perdiam 4,88% a R$ 4,86, indo na contramão de uma sessão otimista. O Ibovespa avançava 0,93% a 105.072 pontos.
Embora a queda no lucro tenha sido uma constante nos últimos anos, à medida que tem enfrentado uma proliferação de rivais no mercado de adquirência, a Cielo teve esse cenário potencializado pelos efeitos do isolamento social sobre o comércio varejista.
Sob a combinação de queda nas vendas com uma pressão nas tarifas que cobra dos clientes, a receita líquida da companhia no trimestre caiu 12,5% ano a ano, para 2,4 bilhões de reais.
Visão dos analistas
O BTG Pactual (SA:BPAC11) reiterou a visão mais cautelosa sobre as ações. Do ponto de vista estratégico, a equipe acredita que a Cielo ainda oferece um valor decente, devido à sua grande participação no mercado, número de clientes, TPV etc.
Os analistas também acham positiva a recente parceria com o WhatsApp, mesmo que ainda não esteja em funcionamento. Mas do ponto de vista operacional, sua perspectiva é extremamente difícil: está perdendo pessoal valioso, não tem independência para realmente se transformar e não é uma divisão de um banco que funcione como um centro de custo. Sob a atual estrutura acionária, ainda é difícil ver o céu azul à frente do titular.
Na visão da XP Investimentos, a Cielo reportou resultados negativos com um prejuízo líquido de R$ 76 milhões (vs. lucro líquido do consenso da Bloomberg de R$ 40 milhões; R$ 429 milhões no 2T19 e R$ 167 milhões no 1T20).
A equipe acredita que o mercado deve reagir negativamente aos resultados no pregão, o que de fato ocorre. No entanto, reitera a recomendação neutra e o preço-alvo de R$ 5,00, pois acredita que a deterioração esteja parcialmente precificada.
Para a Mirae Asset, o resultado ficou abaixo da expectativa, mas já em junho/20, começou uma recuperação no volume, decorrente da queda do isolamento social da população. A corretora espera recuperação ao longo do segundo semestre, mas com forte concorrência.
Balanço
Na outra ponta, o custo dos serviços prestados cresceu 9,6% contra um ano antes, para 1,9 bilhão de reais, refletindo maiores custos com a unidade nos Estados Unidos, MerchantE, devido aos efeitos da alta do dólar, e a maiores despesas com depreciação relativos aos terminais de pagamentos, que subiram 28%.
A Cielo ainda amargou um salto de 91,4% na linha de outras despesas operacionais, para 193,5 milhões, com perdas decorrentes de aumento de contestações na Cateno e “evento operacional pontual”, que a empresa não detalhou, embora tenha afirmado que tomou medidas “para impedir novos eventos dessa natureza”.
O resultado operacional da Cielo medido pelo Ebitda somou 236 milhões de reais no trimestre, redução de 69,7% ano a ano.
A Cielo, que tenta levar adiante uma parceria com o WhatsApp, braço de mensageria do Facebook para pagamentos, afirmou no relatório que vai readequar a sua estrutura de custos e de capital “diante de potencial queda significativa da geração de resultados”.