SÃO PAULO – A ata do Copom (Comitê de Política Monetária) deixou claro para o mercado que não há espaço para flexibilização da política monetária neste momento, apesar da perspectiva do próprio Banco Central de desaceleração da inflação.
Mas com os sinais dados no documento, especialmente sobre política fiscal, a aposta do mercado é que o corte na Selic deve acontecer no segundo semestre deste ano, com ou sem Alexandre Tombini à frente do Banco Central na transição para o provável governo de Michel Temer.
“Novos esforços de ajuste fiscal e a tendência de queda da inflação, se confirmados, devem abrir espaço para cortes de juros no segundo semestre”, afirma Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco (SA:ITUB4) e um dos nomes cotados para substituir Tombini em eventual governo Temer.
Para os economistas do banco UBS, as chances de um afrouxamento monetário a partir de julho aumentam especialmente se as perspectivas para o dólar seguirem em queda
“É provável que o BC comece seu ciclo de flexibilização quando o cenário de referência indicar tendência de inflação abaixo de 4,5%, com o cenário de mercado convergindo para a meta de 4,5% [em 2017], o que – na nossa opinião – é provável que aconteça no final do terceiro trimestre de 2016”, afirma o banco suíço em relatório.
Ata sinaliza mudanças na política fiscal
A ata do Copom informou que “o balanço do setor público encontra-se em zona expansionista”, ao invés de “tende a se deslocar para a zona de contenção”, como no último documento. Para Goldfajn, este é um sinal de que o BC entende que são necessárias medidas adicionais e reformas para que a política fiscal contribua com o processo de desinflação da economia.
“Acreditamos que as chances de um novo esforço de ajustes e reformas fiscais adiante vêm aumentando”, avalia o economista do Itaú (SA:ITSA4) Unibanco.
“A ata veio batendo muito no fiscal, o que abre perspectiva para o governo novo vir com políticas fiscais mais fortes, o que abre espaço para queda de juros. Foi um tom neutro com viés positivo, de quem está passando o bastão”, avalia Paulo Petrassi, chefe de renda fixa da Leme Investimentos.
Mesmo que haja mudança na direção do BC, Thaís Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, avalia que o novo comando deve manter as linhas gerais descritas pela atual gestão em um primeiro momento. Porém, prevê mudança na condução da política fiscal, que passará a ser o foco.
“Se houver avanços no acerto das contas públicas (mesmo que o buraco seja enorme), se ao menos formos colocados na trilha correta, os mercados anteciparão juros menores no futuro, especialmente nos ramos mais longos da curva”, diz Zara.