Investing.com - Os preços do petróleo bruto acumulam queda de mais de 10% desde o início do mês, quando romperam o suporte de US$ 40 o barril, onde estavam desde julho. Mesmo em meio a um cenário de restrição de oferta estabelecido em um acordo entre os principais países produtores e exportadores da commodity, a forte recuperação da demanda após seu colapso durante o ápice das medidas de isolamento social no segundo trimestre está se estabilizando.
Esta semana o mundo petrolífero recebeu prognósticos nada otimistas em relação ao futuro de curto e longo prazo da mercadoria essencial para a vida moderna. Tanto a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) quanto a Agência Internacional de Energia (AIE) revisaram novamente para baixo suas previsões para a demanda global em seus relatórios mensais, ambas sugerindo cautela sobre o ritmo de recuperação da economia após a pandemia de coronavírus.
A Opep divulgou suas projeções na segunda-feira (14). A organização aponta em seu relatório mensal do mercado de petróleo de setembro que cortou sua previsão para a demanda global da commodity em 400.000 barris diários, para uma média de 90,2 milhões de barris por dia (bpd).
O quadro tampouco é otimista para 2021. O cartel ressalta que a demanda vai se recuperar mais lentamente do que se pensava no próximo ano, alertando que "o aumento do uso de teletrabalho e conferências à distância deve limitar a recuperação total dos combustíveis para transporte até os níveis de 2019".
“A jornada para a estabilidade ainda é longa e a estrada é turbulenta”, disse o ministro da Energia da Argélia, Abdelmadjid Mattar, à Petroleum Argus em uma entrevista. "Precisamos permanecer vigilantes. Até que um tratamento ou vacina eficiente seja disponibilizado em todo o mundo, os riscos negativos para a estabilidade do mercado não podem ser ignorados."
Já a AIE reduziu para baixo pela segunda vez em dois meses sua estimativa de consumo de petróleo em 2020 nesta terça-feira (15), corroborando o prognóstico da Opep. Agora, a agência com sede em Paris prevê uma diminuição em 200 mil bpd da demanda de petróleo, para 91,7 milhões de bpd de consumo - o nível mais baixo desde 2013.
"Nós esperamos que a recuperação da demanda desacelere de forma marcante no segundo semestre de 2020, com a maior parte dos ganhos fáceis já tendo sido alcançada", disse a IEA em relatório mensal. "A desaceleração econômica levará meses para ser totalmente revertida... além disso, há o potencial de uma segunda onda do vírus (já visível na Europa) que pode reduzir a mobilidade novamente."
Revolução energética à vista
Já um player tradicional do setor radicalizou nos prognósticos. Em seu relatório anual sobre perspectivas do mercado de energia, a petrolífera britânica BP aponta em uma previsão que o consumo de combustíveis fósseis deve diminuir pela primeira vez na história moderna, à medida que as políticas climáticas impulsionam a energia renovável e modificam as preferências do consumidor, enquanto a pandemia de coronavírus deixará um efeito duradouro na demanda global por energia.
O Energy Outlook da BP, que modela uma variedade de cenários, indicou também que o pico de demanda por petróleo poderia ocorrer em meados desta década, antes de entrar em declínio de longo prazo.
Antes do relatório da BP, a maioria das previsões indica que o "pico da demanda de petróleo" de antes da pandemia não deve voltar antes de 2040, mas o consumo de petróleo é uma das muitas áreas da economia em que o coronavírus acelerou as tendências de longo prazo que já existiam.
Comportamento dos investidores
A perspectiva de uma lenta e dura batalha pela recuperação da demanda está no horizonte dos investidores no mercado petrolífero, atento a sinais de curtíssimo prazo que pode alimentar uma melhora na recuperação do consumo antes que mudanças estruturais estejam completas.
Nesta terça-feira, por exemplo, tanto o contrato futuro do Brent quanto o WTI sobem têm forte alta de mais de, respectivamente, 2% e 3% - com o Brent retornando aos US$ 40 o barril -, sob influência da forte produção industrial e os dados de vendas no varejo da China em agosto.
(Com contribuição de Reuters)