SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta ante o real nesta sexta-feira após renovadas tensões entre a Ucrânia e a Rússia elevarem a aversão dos investidores a risco.
O movimento também refletiu o pronunciamento da chair do Federal Reserve, Janet Yellen, que sustentou apostas de que a alta dos juros dos EUA pode estar mais próxima do que se espera.
A moeda norte-americana subiu 0,53 por cento, a 2,2804 reais na venda, após chegar a 2,2846 reais na máxima do dia.
"Parece que o risco geopolítico vai continuar a gradualmente se intensificar", afirmou o estrategista sênior de câmbio para mercados emergentes do Scotiabank, Eduardo Suarez.
O apetite de investidores por ativos emergentes sofreu desde o início da sessão, após autoridades ucranianas dizerem que 90 caminhões de um comboio russo de ajuda humanitária entraram na Ucrânia sem permissão. O chefe de segurança nacional ucraniano afirmou que o fato representa uma "invasão direta" pela Rússia.
Mais tarde, durante discurso em conferência de bancos centrais em Jackson Hole, nos EUA, Yellen mencionou a ociosidade no mercado de trabalho e pediu uma postura "pragmática" de política monetária, permitindo que as autoridades avaliem dados sem se comprometer com uma trajetória pré-determinada para os juros.
Ao mesmo tempo, ela disse que o mercado de trabalho pode estar mais apertado do que parece e que o Fed pode ter que aumentar os juros mais cedo que o esperado.
"O discurso em si foi balanceado. Ela citou tanto o aspecto de que seria necessário aumentar os juros se a recuperação ganhar força quanto a ociosidade no mercado de trabalho", afirmou o economista-chefe do Espírito Santo Investment Bank, Jankiel Santos, explicando que o mercado esperava que ela "batesse mais na segunda tecla".
A expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos, que tendem a atrair recursos atualmente aplicados em outros países, levou o dólar à máxima em 11 meses contra o euro, além de ajudar a moeda norte-americana a ampliar a alta ante o real.
No Brasil, investidores esperam novas pesquisas de intenção de voto após a entrada da ex-senadora Marina Silva (PSB) na corrida à Presidência. Pesquisa recente mostrou que o novo quadro eleitoral praticamente enterra as chances de a presidente Dilma Rousseff (PT), criticada pelos mercados, se reeleger no primeiro turno.
Pela manhã, o Banco Central vendeu a oferta total de até 4 mil swaps cambiais, que equivalem a venda futura de dólares. Foram vendidos 1,5 mil contratos para 1º de junho e 2,5 mil para 1º de setembro deste ano, com volume correspondente a 197,2 milhões de dólares.
Além disso, a autoridade monetária vendeu a oferta integral de até 10 mil swaps para rolagem dos contratos que vencem em setembro. Ao todo, já rolou cerca de 69 por cento do lote total, que corresponde a 10,070 bilhões de dólares.
(Reporting by Walter Brandimarte)