Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Moderado e com fama de bom gestor, o general Joaquim Silva e Luna, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro para assumir o comando da Petrobras (SA:PETR4), disse que está pronto para a "missão" e que é preciso equilíbrio nas discussões sobre preços de combustíveis.
Uma alta de 15% nos preços do diesel da Petrobras nesta semana, que resultou em críticas de Bolsonaro ao atual CEO da empresa, Roberto Castello Branco, acabou disparando a indicação de Luna na sexta-feira e acentuando temores de interferência do governo na empresa.
Em entrevista à Reuters, Luna minimizou essas preocupações, ressaltando que pretende focar na geração de resultados com o apoio da diretoria executiva.
Ao ser convidado para o cargo na sexta-feira pelo presidente, ele disse que está pronto para "nova missão e para o combate", revelou.
"Serei um gestor e não um general. Não será uma intervenção... mas sem deixar a experiência que reuni na gestão das três Forças como ministro da Defesa e na gestão de Itaipu", disse Luna, por telefone, neste sábado.
"Meu perfil é entregar resultados", adicionou ele, que atuou no Ministério da Defesa no governo Michel Temer e ocupa desde 2019 o cargo de diretor-geral brasileiro da binacional Itaipu.
Luna evitou polemizar sobre a política de preços da companhia que gerou incômodo ao presidente Bolsonaro. Ele destacou que a estatal tem uma diretoria executiva para analisar todas as variáveis que envolvem a formação das cotações.
Mas, frisou, todo ambiente em torno da formação de preços precisa ser avaliado.
"Tem que se buscar o equilíbrio, e nisso tem acionista, o mercado, ver as variáveis como barril e o dólar, e tem o povo, porque os preços do diesel e gasolina impactam toda a cadeia produtiva, e não há como deixar de considerar essa realidade", afirmou ele.
"Não há como ter interferências nessa política de preços. Tem uma diretoria executiva, um colegiado e gente com capacidade para tratar desse assunto. Vamos meditar sobre a economia e o caminhoneiro que está sem carga pra transportar também", complementou.
O governo tem anunciado medidas favoráveis aos caminhoneiros, uma categoria que apoia o presidente Bolsonaro, como uma isenção provisória nos impostos federais do diesel, nesta semana.
Luna disse estar ciente de que interferências na gestão da empresa deram errado no passado e "que isso hoje não passa pela cabeça de ninguém".
Cauteloso, ele destacou que se trata ainda de uma indicação para a estatal.
"Há um caminho a ser percorrido ainda, foi uma indicação que precisa de aprovação. Não dá pra falar muito para não ser indelicado e ilegítimo, mas é o maior desafio que já tive e não temo esse gigantismo."
Mas ele espera que seu nome seja acolhido pelo Conselho de Administração da estatal.
Luna afirmou que pretende conhecer de perto a realidade da empresa, mas a princípio não pretende fazer mudanças na cúpula da companhia.
"Não penso em levar ninguém (comigo)... nunca escolhi equipe e preciso ver aprovado para viver a realidade da empresa. Sou daqueles que vivo com os próprios olhos e ouvidos", disse ele.
A indicação de Luna representa a chegada de mais um militar à área de energia do governo, comandada pelo almirante da Marinha Bento Albuquerque, ministro de Minas e Energia. O presidente do conselho da Petrobras, Leal Ferreira, também é almirante.
O mandato de Castello Branco termina em 20 de março.