Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) - O período de chuvas 2016/17 do Brasil, de novembro a abril, deverá registrar precipitações abaixo da média histórica, o que levaria os preços da energia no mercado de curto prazo a mais do que dobrar em 2017 em relação a este ano, em que as cotações ficaram mais baixas principalmente devido a uma menor demanda associada à crise econômica.
A projeção é da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), instituição do setor responsável por calcular e divulgar semanalmente os preços spot, que influenciam as cotações no mercado livre de eletricidade, onde geradores e comercializadores negociam contratos diretamente com grandes consumidores, como indústrias.
O gerente-executivo de Preços da CCEE, César Pereira, estimou que o período úmido está adiantado --ele começaria mais cedo e assim também teria menos chuvas em sua reta final, mas com as afluências sempre em patamares abaixo da média histórica dos últimos 85 anos.
"Estamos prevendo um período úmido em torno de 20 por cento abaixo da média... é um período úmido ruim... nossas projeções estão mais pessimistas que as de outras instituições", disse ele, com base em estudos meteorológicos e em uma metodologia própria da CCEE para realizar as projeções.
No geral, a expectativa é de chuvas na área das hidrelétricas em torno de 98 por cento em novembro e 89 por cento em dezembro. Em janeiro, seriam atingidos 79 por cento da média, em fevereiro 74 por cento e, em março, 71 por cento.
O pior cenário deve se dar no Nordeste e no Norte, enquanto o Sul deve registrar afluências próximas da média e o Sudeste, um pouco abaixo.
"Ele está adiantado, só que abaixo da média... e termina antes, mais para o final já começa a cair bastante (o nível de chuvas)... nossas metodologias são influenciadas pelo passado, e a gente vem tendo nos últimos anos períodos úmidos bastante ruins no Nordeste", explicou Pereira.
Se confirmado esse cenário, o preço spot da eletricidade, ou preço de Liquidação das Diferenças (PLD), poderia alcançar em 2017 no Sudeste uma média de 233 reais, ante uma média estimada de 102 reais para este ano.
No Nordeste, devido à seca, a média do PLD em 2017 chegaria a 261 reais, ante média estimada de 182 reais neste ano.
Pelas regras do setor elétrico, se o PLD ultrapassa os 211 reais, há mudança na bandeira tarifária das contas de luz de verde para amarela, o que significa uma cobrança extra junto aos consumidores de 0,015 reais para cada quilowatt-hora (kWh) de energia.
As projeções da CCEE apontam que o PLD do Sudeste poderia ultrapassar o patamar da bandeira verde a partir de abril de 2017; no Nordeste, isso poderia acontecer a partir de fevereiro.
Pereira, no entanto, lembrou que a definição das bandeiras tarifárias é uma atribuição da Aneel, que decide a cada mês se é necessário alterar a bandeira vigente.
BENEFÍCIO A GERADORES?
Ele também disse que os preços mais elevados que em 2016 no mercado de curto prazo poderiam beneficiar geradores no próximo ano, pois estes poderiam vender sua energia pelo preço spot ou firmar contratos no mercado livre em condições mais atrativas.
Segundo Pereira, como o mercado trabalha com previsões de um período úmido melhor que o estimado atualmente pela CCEE, uma eventual confirmação do cenário projetado pela instituição levaria a uma elevação nos preços dos contratos no mercado livre de energia ante as cotações atualmente praticadas.
Mas as chuvas menores e os preços spot mais elevados não significam que há risco de abastecimento, ressaltou o executivo da CCEE.
"Pelas nossas projeções, a gente atravessaria o ano que vem sem nenhum risco... não tem risco de faltar energia", afirmou.