Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - As vendas antecipadas de fertilizantes e defensivos para a safra 2015/16 de soja do país estão sendo prejudicadas no Centro-Oeste pela falta de liberação de crédito pelo Banco do Brasil, disseram produtores e a entidade que representa as revendas.
"A paralisação é total", disse o diretor da Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas (Andav) em Goiás, Benjamin de Sousa Junior.
Produtores buscam recursos com juros subsidiados pelo governo, que não estão sendo liberados no momento.
"Em outros anos, nessa época o Banco do Brasil já estava recebendo proposta e até liberando o custeio. O produtor ia na distribuidora e já fazia compra à vista", acrescentou Sousa Junior.
A temporada 2014/15 ainda está em fase de colheita, mas é praxe entre muitos agricultores do Centro-Oeste comprar no primeiro semestre os insumos da safra que será plantada a partir de outubro (a 2015/16, neste caso), buscando melhores preços e condições logísticas para a entrega.
"Esses pré-custeios eram liberados mais cedo. Nesta época já deveria estar acontecendo... Está havendo alguns negócios (de insumos) ainda com dólar mais baixo. Seria importantíssimo uma aceleração (das liberações)", disse Arlindo Cancian, presidente do Sindicato Rural de Canarana, no nordeste de Mato Grosso.
Consultado, o Banco do Brasil, principal financiador do agronegócio brasileiro e operador de linhas de crédito subsidiado pelo governo, indicou que está sendo cuidadoso na concessão de crédito para a próxima safra.
"Em relação à estratégia de antecipação de recursos do próximo ciclo, que se inicia em 1 de julho, o banco avalia as condições de mercado, demanda e conveniência para atuação", afirmou o banco em comunicado.
A instituição disse ainda que está atendendo normalmente às demandas de crédito rural da safra atual, já na etapa final, e que os desembolsos cresceram 13 por cento sobre o ciclo anterior.
Segundo a Aprosoja, que reúne agricultores de Mato Grosso, o percentual de empréstimos vindos de bancos federais para financiar suas atividades foi de 19 por cento em 2014/15.
Em entrevista coletiva na segunda-feira, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, chegou a dizer que desconhecia problemas na liberação de recursos.
"Eu desconheço esse tema", afirmou ela ao ser questionada sobre problemas no chamado pré-custeio.
Kátia Abreu afirmou, por outro lado, que ainda sobram recursos disponíveis do Plano Safra 2014/15.
JUROS MAIS ALTOS
Produtores e empresas aguardam detalhes sobre o Plano Safra 2015/16, especialmente as taxas de juros das linhas de crédito. O anúncio pelo governo deve ocorrer em maio.
"Ajustes em termos de juros, isso é normal, devido o aumento geral de juros do país, mas não faltarão recursos", afirmou a ministra.
O plano anunciado em maio de 2014 e ainda vigente teve taxa média de juros de 6,5 por cento.
"Os juros que deveremos praticar até junho, se houver crédito, tem que ser emprestado com juros da safra 'passada', a 2014/15... A não ser que eles cortaram o crédito para que os novos custeios sejam feitos após a elevação dos juros", disse o vice-presidente institucional da Federação de Agricultura de Goiás, Bartolomeu Braz.
Um levantamento feito pela Faeg em todas as regiões produtoras de Goiás detectou agricultores com dificuldades de liberação de crédito no Banco do Brasil para insumos da safra 2015/16.
"Os produtores têm reclamado muito, porque é um momento de planejamento da safra. Produtor está preocupado, não sabe o que vai acontecer", afirmou Braz.
O diretor da Andav disse que, na prática, há algumas linhas disponíveis no banco, mas com taxas de juros de 16 por cento ao ano, o que torna a tomada de recursos inviável.
"Aquele dinheiro da taxa controlada... não estava autorizado a pegar proposta. E mesmo que pegue proposta hoje, o produtor não sabe se o dinheiro vai sair e a qual taxa", afirmou Sousa.
A Associação Misturadores Adubos Brasil (AMA) disse que há vários fatores para a cautela dos agricultores neste momento.
"Está havendo uma retirada menor de fertilizantes. O agricultor está aguardando uma definição do dólar, preços das commodities e dos fertilizantes", disse o diretor da entidade Carlos Florence. "Não dá para colocar a responsabilidade (na liberação de crédito) no Banco do Brasil... Eventualmente pode haver casos pontuais."
(Reportagem adicional de Aluísio Alves)