Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aprovou a adoção de medidas para garantir o suprimento de energia elétrica aos consumidores em meio à seca no Norte, incluindo a minimização do despacho das usinas hidrelétricas da região e a maximização do uso de outros recursos, como geração termelétrica e importação de energia.
Em comunicado na noite de quarta-feira, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) chamou atenção para a situação de escassez hídrica nos rios Madeira (RO/AM) e Purus (AC/AM), onde se localizam duas grandes hidrelétricas, Santo Antônio e Jirau.
As duas usinas do rio Madeira estão entre as maiores geradoras de energia do país, com capacidade instalada somada de 7.318 megawatts (MW), e foram construídas a fio d'água, isto é, não possuem reservatório de acumulação, estando mais sujeitas à sazonalidade das vazões do rio.
Essas hidrelétricas já costumam gerar menos energia no período seco, que se estende até o mês de novembro, mas vêm sofrendo desde a metade do ano passado com condições hidrológicas ainda mais desfavoráveis do que o normal.
Na semana passada, a Agência Nacional de Águas (ANA) emitiu declaração de situação de escassez hídrica nos rios Madeira, Purus e seus afluentes até 30 de novembro. Nesta semana, boletim do Serviço Geológico do Brasil apontou que o Madeira se aproxima da cota dos 2 metros em Porto Velho (RO), menor marca já registrada para o período.
A cota mais baixa da história no rio Madeira é de 1,1 m e foi registrada em 6 de outubro do ano passado, mesmo período em que houve a paralisação das operações da hidrelétrica de Santo Antônio, da Eletrobras (BVMF:ELET3), devido às vazões reduzidas. Ja no caso de Jirau, as condições técnicas do empreendimento fazem com que ele sofra menos com a hidrologia desfavorável.
A expectativa é de agravamento da seca no Norte ao longo do período seco, disse o CMSE. Diante disso, foi aprovada recomendação para minimizar o despacho das usinas hidrelétricas da região, de acordo com a necessidade do sistema brasileiro, e a utilização de outros recursos eletroenergéticos.
As ações visam garantir a segurança do atendimento da "ponta", isto é, horários de pico de carga no sistema brasileiro, principalmente final da tarde e início da noite.
Segundo comunicado, os estudos prospectivos apresentados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) demonstram, em um cenário de carga elevada e baixa geração nas usinas eólicas, a necessidade de mobilização de "recursos adicionais" para manutenção da confiabilidade no atendimento aos consumidores.
Entre as medidas indicadas pelo ONS para os próximos meses, estão a utilização de geração termelétrica, a importação de energia elétrica da Argentina e Uruguai e a "resposta da demanda", programa que incentiva grandes indústrias a deslocarem seu consumo de energia para momentos de menor carga no sistema.
Apesar do cenário desfavorável na Região Norte, segundo o CMSE, a condição segue favorável para o atendimento eletroenergético nas demais regiões e deve permanecer ao longo de 2024. O armazenamento médio registrado no sistema elétrico brasileiro, referente aos reservatórios das usinas hidrelétricas, é de 66%, um índice próximo das médias históricas para o período seco.
O CMSE apontou ainda que, para agosto, de acordo com o cenário menos favorável, a indicação é de afluências abaixo da média histórica para as hidrelétricas de todo o país. No Sistema Interligado Nacional (SIN), as chuvas devem alcançar 59% da média histórica, sendo o 2º menor valor para o mês de um histórico de 94 anos.
(Por Letícia Fucuchima)