Por Ben Blanchard e Michael Martina
PEQUIM (Reuters) - O plano da China para manter o presidente Xi Jinping no poder indefinidamente provocou oposição nas redes sociais, incitando comparações com a dinastia reinante na Coreia do Norte e acusações sobre criação de um ditador vindas de um ativista pró-democracia de Hong Kong.
A reação vista nas redes sociais na noite de domingo logo levou a China a realizar um esforço de propaganda orquestrado nesta segunda-feira, bloqueando alguns artigos e publicando textos de exaltação do partido.
O governista Partido Comunista propôs no domingo a anulação de uma cláusula constitucional que estabelece um máximo de dois mandatos presidenciais, o que significa que Xi, que também comanda o partido e os militares, pode não ter que se aposentar nunca.
A proposta, que será aprovada por delegados fiéis ao partido na reunião anual do Congresso essencialmente simbólico da China no mês que vem, é parte de um pacote de emendas na Constituição do país.
A medida também acrescentará à Carta Magna o pensamento político de Xi, já adicionado à Constituição partidária no ano passado, e estabelecerá um arcabouço legal para um poderoso organismo anticorrupção, além de fortalecer de forma mais ampla o controle rígido do partido no poder.
Mas parece que o partido terá trabalho para convencer algumas pessoas na China --onde atualmente Xi é muito popular, em parte graças à sua guerra à corrupção-- de que a medida não acabará dando poder demais ao seu líder.
"Que horror, vamos nos tornar a Coreia do Norte", escreveu um usuário do Weibo em referência à nação onde a dinastia Kim reina desde o final dos anos 1940. Kim Il Sung fundou a Coreia do Norte em 1948, e sua família comanda o país desde então.
"Estamos seguindo o exemplo do nosso vizinho", escreveu outro usuário.
Os comentários foram retirados do ar na noite de domingo, quando o Weibo, o equivalente chinês do Twitter, começou a bloquear nas pesquisas o termo "limite de dois mandatos".
Em uma medida incomum em meio à intensa atenção midiática internacional, o Ministério das Relações Exteriores chinês, que normalmente só comenta assuntos diplomáticos, disse que emendar a Constituição é assunto do povo chinês.
Desde 1954, quando a Constituição foi adotada, todos podem ver que ela vem sendo "melhorada continuamente", disse o porta-voz da chancelaria, Lu Kang, em um boletim de rotina à imprensa.