O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que o agravamento da seca deve provocar o acionamento de 70% a 80% das térmicas do país. A previsão é para outubro e novembro, meses de final do período seco em que os níveis das hidrelétricas devem estar ainda mais baixos e o consumo tende a crescer com a elevação das temperaturas.
“Estamos tomando as medidas mitigadoras para manter os reservatórios capazes de dar resposta, mas o nosso parque térmico nacional está preparado e no caso de necessidade será todo acionado. E acredito que neste ano vai ser necessário. Vamos acionar aqueles que tiveram condições de despachar. Acredito que vamos precisar de algo entre 70% e 80% dos quase 20 GW de capacidade do nosso parque térmico para o final do período de estiagem”, disse.
A declaração foi dada em entrevista à CNN Brasil, exibida na noite deste sábado (31.ago.2024). O ministro afirmou que a situação dos reservatórios preocupa, sobretudo para os próximos meses, para suprimento de energia nos horários de pico de consumo.
O maior problema é no horário do final da tarde e início da noite. A partir das 17h, o sistema elétrico deixa de contar com a geração solar e cerca de 30 GW deixam o sistema em questão de minutos. Já o consumo no mesmo horário é crescente, com os consumidores chegando em casa e ligando chuveiros elétricos e outros aparelhos.
Nesse horário, o ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) aciona as hidrelétricas para aumentar a geração e liga algumas térmicas. Mas com as chuvas abaixo do esperado e menor disponibilidade de recursos hidráulicos, é necessário cada vez mais recorrer às termelétricas. E isso deve se acentuar até o final do período seco.
Como mostrou o Poder360, desde fevereiro o ONS vinha alertando para a projeção de baixa vazão das usinas para o período seco neste ano. Neste mês, sugeriu ao governo que serão necessárias medidas extras para garantir o suprimento elétrico em horários de pico de demanda (como no final da tarde), como antecipar despacho de térmicas e adiar manutenção de usinas.
Atualmente, 4 das principais hidrelétricas com reservatórios do país estão com níveis na casa de 20%. Na usina de Furnas, uma das maiores do Brasil, o nível está em 50%. Já no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, onde estão 70% dos principais reservatórios do sistema elétrico, a média está em 56%.
A entidade vem reportando já há alguns meses que a afluência, ou seja, o volume de água que chega ao reservatório de uma usina hidrelétrica e que pode ser transformada em energia, está abaixo da MLT (Média de Longo Termo), média verificada para um histórico de 94 anos de medições.
Bandeira vermelha acionada
O agravamento da seca combinado com a previsão de alta demanda em setembro fez a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionar a bandeira vermelha nível 2 para setembro. É a 1ª vez em 3 anos que esse patamar será utilizado no país.
Isso significa que haverá cobrança adicional na conta de luz de R$ 7,87 a cada 100 KWh (quilowatt-hora) consumidos. É um extra significativo que pesará no bolso do consumidor em um mês de calor intenso. A medida também deve impactar o índice de inflação no próximo mês.
A última vez que a conta de luz teve bandeira vermelha foi em agosto de 2021, quando vigorou o nível 2. De setembro de 2021 a abril de 2022 existiu temporariamente uma bandeira de nível ainda mais elevado, a de escassez hídrica (também chamada de bandeira preta), que foi extinta.
Segundo a Aneel, as condições para geração de energia estão menos favoráveis por causa do agravamento do período seco. A bandeira vermelha foi acionada para setembro em razão da previsão de chuvas abaixo da média até o final do ano (em cerca de 50%) e pela expectativa de crescimento do consumo de energia no mesmo período.
“Esse cenário de escassez de chuvas, somado ao inverno com temperaturas superiores à média histórica do período, faz com que as térmicas, com energia mais cara que hidrelétricas, passem a operar mais”, informou a Aneel em comunicado.