Os juros futuros fecharam a quarta-feira em baixa moderada, influenciados por uma série de notícias na área fiscal, em especial, o avanço das pautas econômicas no Congresso, e pelo recuo nas cotações do petróleo, que endossam a perspectiva de queda nos preços da gasolina. O gatilho para o ajuste de baixa foi dado logo pela manhã, com declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ontem à noite, consideradas "dovish". À tarde, as taxas reduziram o ritmo após a revisão para cima na projeção do governo para o déficit de 2023 e desaceleração da perdas do petróleo.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 caiu de 10,563% para 10,500% e a do DI para janeiro de 2026, de 10,30% para 10,24%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 10,36% (de 10,43%) e a do DI para janeiro de 2029 encerrou a 10,77%, de 10,83% ontem.
Pela manhã, as taxas chegaram a cair quase 20 pontos-base, com o mercado repercutindo a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do projeto de lei de taxação dos fundos offshore e fundos exclusivos. O governo conseguiu avançar ainda na proposta de taxação das apostas esportivas, também aprovada na CAE. As propostas fazem parte do pacote de aumento da arrecadação com o qual a equipe econômica conta para conseguir zerar o déficit primário em 2024.
O estrategista-chefe do Banco Mizuho (NYSE:MFG), Luciano Rostagno, afirma que a evolução das propostas no Congresso favoreceu hoje devolução parcial dos prêmios adicionados na curva nos últimos dois dias, enquanto o exterior contribuiu via baixa das commodities. "A queda nos preços do petróleo ajuda neste momento de pressão para corte de combustíveis", disse. O petróleo chegou a cair mais de 4%, mas à tarde reduziu bastante o ritmo.
À tarde, a percepção de risco fiscal piorou um pouco depois da divulgação da revisão da estimativa de déficit primário de 2023 para R$ 177,4 bilhões, no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do 5º bimestre. No documento anterior, de setembro, a projeção de déficit era de R$ 141,4 bilhões. Assim, a nova previsão do governo fica mais perto da meta de saldo negativo de até R$ 213,6 bilhões, no valor ajustado divulgado neste documento, mas a Fazenda chegou a prometer no começo do ano um rombo bem menor, de 1,0% do PIB, ou cerca de R$ 100 bilhões.
"Trata-se de um movimento preocupante, que torna ainda mais desafiadora a missão de reequilibrar as contas em um prazo razoável", afirmou o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, lembrando que a confiança na sustentabilidade fiscal é um dos determinantes da curva de juros.
A entrevista do presidente do BC, Roberto Campos Neto, à TV Bloomberg ontem à noite repercutiu logo cedo sobre as taxas. "Campos Neto deixou claro que o ciclo de cortes de juros devem continuar, mesmo com as expectativas de inflação de prazos mais longos ainda acima das metas", destaca Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management.
Quando perguntado sobre quando o ciclo de afrouxamento vai terminar, Campos Neto disse que isso depende de muitos fatores, mas que está confiante de que "somos capazes de estabilizar a inflação". "Quando observamos as expectativas de inflação, mesmo um pouco acima da meta, elas estão bem comportadas", afirmou.
Na leitura de Olivares, a afirmação indica que o fato das expectativas estarem desancoradas obrigam o BC a manter postura contracionista, o que não implica que o nível de aperto monetário precisa ser o mesmo. "A mensagem deveria ser entendida dessa forma: 'estamos cortando juros porque a inflação está caindo, e poderíamos cortar mais se as expectativas estivessem ancoradas.' Não há como discordar."