Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - O volume de soja previsto para ser embarcado no Brasil em abril, com navios já nomeados, está 28 por cento menor que no mesmo período de 2016, indicando operações portuárias mais eficientes e negócios de exportação com maior foco no curto prazo.
Navios estão aparecendo em 2017 nas escalas portuárias --principalmente em Santos e Paranaguá, os dois principais polos exportadores do Brasil-- com muito menos antecedência, uma vez que operadores enfrentam alguma dificuldade em realizar negócios com prazos mais longos, em meio a uma retração nas vendas de produtores, que buscam melhores preços.
A lista de navios nomeados para atracação futura no Brasil indica atualmente 8,2 milhões de toneladas de soja, ante pouco mais de 11 milhões na programação de embarques do início de abril de 2016, segundo dados da agência marítima Williams compilados pela Reuters.
"As filas estão menores, pois as tradings não estão conseguindo efetivar grandes aquisições no mercado físico, com baixas vendas de produtores", disse o analista de grãos da consultoria IEG FNP, Aedson Pereira.
"Com isso, não existem grandes nomeações de navios com muita antecedência em função da atual condição de mercado. Tradings não operam descobertas", acrescentou ele.
Isso, contudo, não deve impedir que o Brasil continue exportando volumes históricos.
No início de março, por exemplo, a escala de embarques futuros estava 41 por cento abaixo da registrada um ano antes.
Ainda assim, o país foi capaz de exportar 9,7 milhões de toneladas no mês passado, maior volume para um mês de março na história, superando em 8,6 por cento o mesmo mês em 2016, segundo estatísticas da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec) divulgadas nesta segunda-feira.
Uma baixa nos preços da soja no mercado internacional e uma cotação do dólar menos favorável para os negócios de exportação têm feito com que muitos agricultores mostrem-se relutantes em fechar vendas de sua produção, gerando entraves para toda a cadeia exportadora.
Em Mato Grosso, por exemplo, maior Estado produtor de grãos do país, a comercialização da safra 2016/17 de soja avançou em março para 61,5 por cento da colheita total esperada, ante 65,8 por cento um ano atrás.
"Apesar das baixas vendas de produtores... há muita soja vindo do campo", completou Pereira, referindo-se à safra recorde.
De fato, a grande maioria dos analistas têm elevado sua previsão de oferta de soja no país na atual safra 2016/17, que está em fase final de colheita.
A corretora Labhoro elevou nesta segunda-feira sua previsão de produção para 113,9 milhões de toneladas, ante 109,8 milhões da estimativa de 21 de março, devido a produtividades excelentes nas lavouras colhidas neste fim de temporada.
"O fluxo de embarques no Brasil deverá continuar forte nos próximos meses. Tem um aumento da competitividade da soja brasileira frente à norte-americana (principal concorrente do Brasil)", disse a analista da Labhoro, Andrea Cordeiro, citando a grande oferta local.
A Anec reiterou nesta segunda-feira sua previsão de embarques de um recorde de 60 milhões de toneladas de soja em 2017, ante 50,5 milhões em 2016, consolidando o Brasil como maior exportador global de soja.
LOGÍSTICA
Analistas destacaram também que os navios têm figurado nas escalas portuárias por períodos mais curtos por ajustes nas operações.
O volume de navios nomeados atualmente em Paranaguá, por exemplo, está em 1,2 milhão de toneladas, 61 por cento abaixo do registrado um ano atrás, segundo os dados da Williams.
O porto no litoral paranaense historicamente é um dos mais complexos para as empresas exportadoras, já que toda a estrutura de carregamento de navios é pública e compartilhada, demandando uma grande coordenação na fila de embarques.
Há cerca de três anos, houve uma mudança na regra da fila, que agora dá prioridade aos navios que chegam já com toda a carga contratada.
"O embarcador trazia cinco navios para embarcar, sendo que sua capacidade era embarcar três", disse o diretor da operadora portuária Sealogic, de Paranaguá, Sandro Hech, lembrando que antes a prioridade de embarque era dada simplesmente pela ordem de chegada, estimulando o envio de um grande número de embarcações para a região do porto. "Já não há mais necessidade de entrar numa fila longa."
Há alguns anos, era comum que um navio demorasse 50 dias entre sua chegada ao porto de Paranaguá e seu carregamento. Atualmente, as grandes tradings já conseguem operar com um intervalo de 10 dias entre a chegada do navio e sua liberação, disse Hech.
Em linhas gerais, os portos do centro-sul do Brasil, desde Aratu (BA) até Rio Grande (RS), apresentam uma queda de 37 por cento na escala de embarques futuros, totalizando 6,3 milhões de toneladas de soja.
Já os portos do Arco Norte (Itacoatiara, Santarém, Vila do Conde e Itaqui), que são novos e já operam com logística otimizada, aumentaram sua escala de navios ante abril de 2016 em 36 por cento, para 1,8 milhão de toneladas de soja, indicando um crescente uso destes terminais para o escoamento da produção nacional.