SÃO PAULO (Reuters) - A MRV&Co encerrou o quarto trimestre do ano passado com prejuízo líquido ajustado de 146 milhões de reais, pressionado por empreendimentos com margens afetadas por descasamento entre valores de venda e alta de custos de construção, segundo balanço divulgado nesta quarta-feira.
A companhia, maior construtora de imóveis residenciais do Brasil, porém, reduziu o consumo de caixa para 535 milhões de reais nos três meses encerrados em dezembro ante o montante de 1,2 bilhão de reais consumido no terceiro trimestre.
"Ao longo de 2020 e 2021 custamos a subir preços e o resultado ficou amassado", disse o diretor de finanças, Ricardo Paixão. "Começamos a reagir em 2022, fazendo com que o preço subisse acima da inflação e a margem bruta subiu", acrescentou o executivo, citando que o efeito mais significativo das recentes altas de preços deve se fazer sentir mais a partir do segundo semestre deste ano.
"Veremos a margem bruta subindo mais forte", disse Paixão.
No quarto trimestre do ano passado, a margem bruta consolidada da MRV (BVMF:MRVE3) foi de 20,2% ante 19,3% no terceiro e 23,4% nos três últimos meses de 2021.
A companhia tem meta de conseguir elevar o preço médio de seus imóveis para 230 mil reais até o final do ano ante 208 mil no fim de 2022 e 169 mil no quarto trimestre de 2021. A expectativa é que esta elevação ajude a produzir uma margem bruta de novas vendas de 33% ante 29% no fim do ano passado.
As metas fazem parte do foco da companhia em recuperar resultados e a rentabilidade após anos em que a alta dos custos de insumos como energia, aço e cimento superou a evolução nos preços dos imóveis, segundo queixas frequentes da indústria da construção.
De acordo com Paixão, apesar de a estratégia de elevar os preços acima da inflação ser um risco diante dos bolsos curtos dos consumidores, a demanda reprimida aliada à ênfase renovada do governo em programas habitacionais ajudará a recompor as margens da empresa.
Além da recuperação de margens, a MRV também tem meta de redução na alavancagem, que subiu no Brasil para 7,48 vezes no final do ano passado ante 4,57 vezes no terceiro trimestre e 2,01 vezes nos três últimos meses de 2021.
O objetivo do grupo é trazer a alavancagem para abaixo de 3 vezes dívida líquida sobre Ebitda no Brasil em 2025, disse Paixão.
Para ajudar nesta frente, a empresa lançou plano para sair gradualmente de 40 cidades do Brasil, processo que deve levar mais de cinco anos.
"Vamos sair de cidades com preços de venda mais baixo e com clientes que estejam mais espremidos (em poder de compra)", disse o diretor financeiro da MRV. O executivo citou que a saída da empresa destes mercados vai ocorrer por meio de processos que incluem fim de compra de novos terrenos ou distratos. "Em termos líquidos, o resultado disso vai ser positivo, sendo apropriado no resultado aos poucos", disse Paixão.
Segundo ele, apesar do cenário de juros altos no Brasil, o segmento de baixa renda, que tem ganhado mais atenção da empresa com as mudanças nos programas habitacionais do governo federal e de Estados e municípios, "está muito resiliente, mostrando uma capacidade boa de continuarmos com ritmo positivo de vendas".
"Estamos bem confiantes que este ano as vendas devem ser melhores que no ano passado", disse Paixão. Já do lado dos custos, a expectativa da empresa é de alta em linha ou um pouco abaixo da inflação, puxados principalmente pelos materiais de construção, afirmou.
A MRV apurou receita líquida de 1,66 bilhão de reais no quarto trimestre, praticamente estável ante o desempenho do terceiro e queda ante o faturamento de 1,9 bilhão de reais apurado no três últimos meses de 2021. Analistas, em média, esperavam receita de 1,7 bilhão de reais para a MRV&Co, segundo dados da Refinitiv.
No quarto trimestre, a empresa apurou vendas líquidas no conceito VGV de 2 bilhões de reais, um salto de 40,8% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, mas queda de 14% na comparação anual. Os lançamentos dispararam cerca de 93% e 7%, respectivamente.
(Por Alberto Alerigi Jr.)