Por Ana Beatriz Bartolo, com colaboração de Jéssica Melo
Investing.com - O Nubank anunciou ao mercado que reduziu o seu valor de oferta pública inicial de ações (IPO) para US$ 41,5 bilhões, um corte de quase US$ 10 bilhões considerando as previsões anteriores. Isso também fará com que o preço da ação caia para entre US$ 8 e US$ 9. A fintech planeja abrir o seu capital na NYSE, em Nova York, ainda este ano.
Para Alberto Amparo, analista da Suno Research, essa redução no preço é uma combinação do desaquecimento do mercado, por causa da nova variante do coronavírus, com uma reavaliação do valor da companhia.
“Um valuation de US$ 50,6 bilhões é superior a qualquer outro banco no Brasil, mas apesar do crescimento exponencial nos últimos anos, especialmente na carteira de crédito e em depósitos, o Nubank ainda tem desafios para conseguir monetizar a base de clientes”, destaca o analista, que fala sobre o prejuízo de R$ 528,4 milhões apresentado pela companhia nos 9M21.
“É muito difícil projetar um lucro para os próximos anos que justifique um valuation de US$ 50 bilhões, porque assim o Nubank teria que lucrar quase US$ 4 bilhões”, explica Amparo.
O novo valuation de US$ 41,5 bilhões é mais atrativo, segundo o Amparo, mas ainda não há evidências sólidas de que a empresa irá alcançar esse crescimento rapidamente. “O preço é mais atrativo que o anterior, mas ainda não recomendaria esse patamar, usando como base uma abordagem mais conservadora”, comenta.
Um problema de crescimento
A analista Danielle Lopes, da Nord Research, também aponta o histórico de prejuízo do Nubank como um elemento que torna o IPO da empresa caro e pouco indicado.
Nas contas feitas quando o valuation era de US$ 50 bilhões, com as ações custando US$ 10,50 e uma P/L histórica da bolsa em 15x, a fintech teria que lucrar US$ 3,3 bilhões para ser negociada com um múltiplo em linha com a média histórica do Ibovespa.
Isso representaria um lucro 260x maior que o apresentado no primeiro semestre de 2021. Para Lopes, o Nubank tem capacidade de gerar grandes lucros no longo prazo, mas fica impossível saber se esses patamares de expectativas realmente acontecerão.
Destaques do IPO
Em um relatório divulgado pela Suno Research, um aspecto destacado na abertura de capital Nubank é a tentativa de converter uma parcela dos seus 48 milhões de clientes do banco em usuários da NuInvest, a plataforma de investimentos que veio da compra da EasyInvest.
Com o IPO, o Nubank planeja oferecer, sem custo, um BDR para os
correntistas que desejarem, sendo que cada certificado de depósito irá corresponder a um sexto da ação negociada nos EUA.
A iniciativa chamada “NuSócios” tem um limite de distribuição de 18,3 milhões de BDRs, ou seja, se 10% dos clientes aceitarem essa oferta, seriam 1,8 milhão de novos usuários, o que, segundo o relatório da Suno, faria com que a NuInvest fosse impulsionada a uma das maiores corretoras do país.
A Suno também destaca que em meio à competição entre os bancos tradicionais e as fintechs, o Nubank apresenta uma vantagem por ser uma marca de boa reputação e alto grau de satisfação entre os clientes. Apesar disso, a empresa vem enfrentando uma concorrência cada vez mais acirrada, especialmente no segmento de cartões de crédito.