Investing.com - As ações da Petrobras (SA:PETR4) registram forte queda de 4,00% a R$ 26,88 às 11:07, liderando assim as perdas do Ibovespa na parte da manhã. O mercado reage negativamente à notícia de que a estatal desistiu de subir o preço do diesel após uma pressão do presidente Jair Bolsonaro.
A medida traz incertezas quanto à independência da estatal no que tange a sua política de reajustes de combustíveis. Recentemente a Petrobras havia mudado a política de ajustamento de preço do diesel, deixando de ser diário para a cada 15 dias. Flutuações de preço no período seriam protegidos por operações de hedge.
Na véspera, por volta do meio-dia, a Petrobras chegou a anunciar elevação de 5,7 por cento no valor do diesel para esta sexta-feira, mas à noite anulou o aumento e decidiu manter a cotação em 2,1432 reais por litro, praticada desde 22 de março.
O movimento ocorre diante de uma recente insatisfação de caminhoneiros em razão dos valores do diesel e dos fretes. No ano passado, a categoria organizou uma greve histórica por causa da alta do combustível mais consumido no país, o que abalou a Petrobras, culminando com a renúncia do então CEO Pedro Parente.
Conforme uma fonte do Palácio do Planalto, Bolsonaro ligou ao atual presidente da empresa, Roberto Castello Branco, logo após conversa com o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, pedindo por um reajuste mais brando.
"O presidente pediu para reduzir o aumento, de 5 para 1 por cento... É manter o aumento, mas não nesse percentual", afirmou a fonte palaciana, sob condição de anonimato, dada a sensibilidade do assunto.
Indagada pela Reuters sobre eventual interferência do governo, a assessoria de imprensa da Presidência da República não respondeu de imediato. A Petrobras também não respondeu.
Contudo, em comunicado ao mercado após desistir de elevar o valor do produto, a Petrobras afirmou que "em consonância com sua estratégia para os reajustes dos preços do diesel... revisitou sua posição de hedge e avaliou, ao longo do dia, com o fechamento do mercado, que há margem para espaçar mais alguns dias o reajuste".
"A empresa reafirma a manutenção do alinhamento com o Preço Paridade Internacional (PPI)", concluiu.
BTG mantém recomendação de compra
Em relatório divulgado a clientes, os analistas do BTG Pactual (SA:BPAC11) avaliam que a medida expôs a Petrobras à influência política mesmo sob um governo com agenda liberal. A ameaça de greve dos caminhoneiros a cada anúncio de reajustamento do preço do diesel colocou a estatal sob um dilema, segundo o BTG: os efeitos de uma greve dos caminhoneiros seriam prejudiciais à economia brasileira, à própria Petrobras e à própria agenda liberalizante do Palácio do Planalto; entretanto, represar preço tampouco traz benefícios à companhia, colocando em risco o seu processo de desalavancagem.
Os analistas questionam, também, se houve mudança de percepção do governo sobre a atual política de preços da estatal ou se a medida de ontem a noite foi apenas temporária. A resposta, segundo o banco, depende da reação da equipe econômica.
Ante esse contexto, o BTG Pactual mantém recomendação de compra, aguardando novas informações sobre a liberdade da Petrobras de fixar preço. Os analistas consideram que a manutenção da liberdade de fixar preço junto com o processo de desinvestimento com as futuras vendas de refinaria mantêm a estatal sob os holofotes de ganhos.