Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Enquanto grandes petroleiras amargam reduções de receita devido ao declínio progressivo do preço do petróleo, empresas de menor porte, com ativos ainda em fase de desenvolvimento, vislumbram uma melhoria das condições de mercado para os seus ativos.
Isso porque o cancelamento ou postergação de projetos em todo mundo, consequência da queda da commodity, já começou a causar um barateamento dos valores cobrados por serviços de óleo e gás, segundo petroleiras e especialistas ouvidos pela Reuters.
No Brasil, entre as petroleiras com projetos em exploração e desenvolvimento estão a australiana Karoon e a brasileira Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP), entre outras, como Barra Energia, Ouro Preto e Petra Energia, beneficiando-se da conjuntura de menores custos após anos de preços do petróleo relativamente valorizados.
No caso da Petrobras, a principal cliente das empresas fornecedoras de equipamentos e serviços no Brasil, esse benefício também é visto, embora a estatal esteja amarrada, em determinados segmentos, como o de sondas de perfuração, a preços mais altos por contratos de longo prazo, iniciados antes do colapso dos preços do petróleo.
"Em um período com menor quantidade de projetos (globalmente), e ainda com pressões para que os custos sejam os menores possíveis, a concorrência aumenta e os preços (dos serviços) tendem a cair", disse o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro), Paulo Martins.
"Entendemos, que muitas empresas, prestadoras de serviços e fornecedoras de equipamentos, se prepararam para uma outra realidade", destacou Martins, em entrevista à Reuters.
Os preços do petróleo já perderam mais da metade do seu valor desde meados de 2014, com um aumento da oferta global. O referencial Brent é negociado atualmente perto de 50 dólares por barril.
O mercado brasileiro de fornecedores deve ser pressionado adicionalmente pelo efeito de uma esperada redução de investimentos da Petrobras. Mergulhada em acusações de que teria envolvimento em suposto esquema de corrupção, a estatal traça estratégias para não ter que recorrer a bancos em 2015.
TERMÔMETRO
Um bom termômetro para medir o comportamento do setor, a taxa diária de novos contratos de afretamento de navios-sonda e plataformas semi-submersíveis, já apresenta quedas importantes no mundo.
No caso das construídas para operar em profundidades de até 3 mil pés, os valores chegaram a cair 47 por cento, no último trimestre de 2014, frente ao mesmo período do ano anterior, para 167 mil dólares/dia, segundo a consultoria IHS Energy.
Partindo da hipótese que os preços vão se recuperar mais adiante, empresas com campos em fase de desenvolvimento vão se beneficiar de custos mais baixos até que entrem em produção, avaliou o professor da UFRJ, Edmar Almeida.
Companhias como a australiana Karoon, ainda sem produção, e a Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP), que já produz importantes quantidades de gás no Brasil, ainda precisam de um ou mais anos para colocar campos de petróleo em produção.
O diretor-geral da Karoon, Tim Hosking, disse que já sente os preços de serviços no setor de 10 a 15 por cento menores do que em janeiro de 2014. Ele acredita que o barril de petróleo deve se manter em patamares abaixo dos 70 dólares/barril entre 12 e 18 meses, até que comece a subir novamente.
A australiana já realizou importantes descobertas na Bacia de Santos e ainda planeja atividades exploratórias ao longo deste ano. Havendo sucesso em 2015, a Karoon vai analisar propostas para contratação de uma nova plataforma de perfuração em 2016.
Se tudo avançar como o esperado, Hosking prevê início da produção da Karoon no Brasil entre 2018 e 2019.
"O preço do óleo está muito baixo, há campos em outras partes do mundo que vão fechar e nós podemos conseguir FPSOs (plataformas) usadas", afirmou o executivo, à Reuters.
"Temos várias opções agora, especialmente porque o preço do óleo está muito baixo, muitas oportunidades boas para nossa empresa" declarou.
Já a QGEP identificou oportunidades de reduzir aportes previstos para o sistema definitivo do campo de Atlanta, na Bacia de Santos, um dos mais promissores da empresa, segundo o diretor de produção, Danilo Oliveira. A expectativa é iniciar a produção em 2016, por meio de Sistema de Produção Antecipada.
"O preço de óleo diminui, a gente ouve falar de alguns grandes projetos sendo postergados, com isso os serviços ficam menos demandados, o que significa preços menores", disse Oliveira, em conferência com analistas em dezembro.
PETROBRAS
Já caso da Petrobras, segundo a IHS Energy, embora seus preços médios diários de afretamento de sondas ainda não tenham caído, é justo dizer que a empresa está começando a ver o impacto das reduções nas suas extensões contratuais mais recentes.
"As reduções nos preços de quaisquer serviços offshore no mercado mundial acabarão por afetar Petrobras, porque as barreiras à entrada no mercado brasileiro não são tão altas que impeçam uma competição no Brasil, se os preços são mais elevados lá", afirmou a IHS Energy.
Procurada, a Petrobras não comentou imediatamente, mas ressaltou em nota neste mês que os custos da indústria fornecedora de bens e serviços são, historicamente, correlacionados aos preços de petróleo.
Segundo a estatal, "quando há redução relevante, como no caso atual do patamar de preços do barril, ela é acompanhada, ainda que não imediatamente, de uma diminuição dos custos em segmentos importantes do setor de bens e serviços".
A empresa disse ainda que o efeito dessa redução compensa, em parte, a perda de receita ocasionada pela queda do preço do barril.