Por Rodrigo Viga Gaier
RIO DE JANEIRO (Reuters) - Um acordo envolvendo o pacote de socorro financeiro ao setor aéreo, que está sendo gestado pelo BNDES com bancos privados, pode ficar para o início de julho em meio às contínuas incertezas sobre o futuro do setor aéreo pós-pandemia, agravadas nesta semana por um pedido de recuperação judicial da Latam, afirmaram fontes do governo à Reuters.
As discussões, que se arrastam há cerca de dois meses envolvendo um volume de recursos que inicialmente era de cerca de 9 bilhões de reais e que acabou se reduzindo para 6 bilhões, já vinham sendo dificultadas por questões sobre nível de participação das instituições financeiras nas companhias aéreas e exigências de garantias. O governo havia afirmando no início da pandemia que a ajuda ao setor sairia em abril.
"Vai sair a ajuda, mas mais para frente", disse uma das fontes, pedindo para não ser identificada. "Vamos tentar pelo menos para Gol (SA:GOLL4) e Azul (SA:AZUL4) mais para o fim de junho", acrescentou a segunda fonte.
O governo considera essencial ajuda ao setor aéreo por considerar como elevada a importância logística e estratégica das operações das empresas para o país, mas as instituições financeiras têm incertezas sobre como ficará a indústria de aviação após a pandemia, disseram as fontes.
A percepção do governo e das instituições financeiras é que todas as companhias aéreas vão encolher e haverá demissões expressivas, o que constitui um peso político para qualquer ajuda estatal.
"Mesmo com ajuda bilionária, empresas americanas planejam demissão em massa. Aqui também não temos como garantir (que não haverá demissões", disse a segunda fonte. "Então não conseguimos garantir que todas as empresas vão sobreviver...Temos que tomar cuidado com dinheiro público", disse a primeira fonte.
Procurado, o BNDES não pode se manifestar de imediato.
Sobre o pedido de recuperação da Latam e subsidiárias nos Estados Unidos, que não incluiu as operações no Brasil, trata-se de um desdobramento da crise que precisa ser melhor estudado.
"Nos precisamos avaliar os números e entender como fazer uma operação com Brasil tendo a controladora em recuperação judicial. Via de regra pedimos garantia ao controlador e agora estudamos como fazer nessa situação da Latam", disse a segunda fonte. "O que se quer é que essa garantia esteja à frente das demais dívidas da empresa", acrescentou.
Na terça-feira, o presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, afirmou à Reuters que a empresa prefere não pedir recuperação judicial no país e que a subsidiária do grupo chileno ainda se beneficiará do pedido de falência da sede nos Estados Unidos uma vez que o processo no Brasil é "muito travado".
Apesar dos entraves e do anúncio da recuperação judicial da Latam, o BNDES segue buscando uma solução de mercado que contemple um socorro das empresas do setor com apoio de bancos privados, emissão de debêntures e outros instrumentos. "Tem que ser algo bem amarrado, com garantias, para evitar problemas de não pagamento lá na frente", disse a segunda fonte.
Do pacote de 6 bilhões, o BNDES segue disposto a entrar com 2,4 bilhões de reais, afirmaram as fontes. Bancos privados forneceriam outros 500 milhões e o restante da operação viria da emissão de debêntures conversíveis em ações e prazo de 5 anos e emissão de bônus.
"A ajuda vai sair sim. O que pode acontecer é em ritmos diferentes por conta da situação da Latam", disse a segunda fonte. "Podem sair em momentos diferentes, não vamos penalizar ninguém amarrando uma ajuda na outra", afirmou a primeira fonte.