SÃO PAULO (Reuters) - O taiwanês Hou Hsiao-Hsien não é um cineasta de rótulos, apesar de, em sua filmografia, lidar com gêneros cujas regras estão preestabelecidas. Em sua mais nova produção, “A Assassina”, busca inspiração no “wuxia”, que mistura lutas de espadas e fantasia, situando suas histórias na China medieval, mas aqui, inclui seus toques pessoais.
Conhecido pela beleza visual que imprime ao seu trabalho, Hou recebeu o prêmio de direção no Festival de Cannes no ano passado por este filme.
A peculiaridade plástica de seus longas – entre eles, “A Viagem do Balão Vermelho” e “Café Lumière” – materializa-se aqui na composição visual precisa tanto dos ambientes internos quanto dos exteriores. O impacto estético é o que há de mais forte, uma vez que a narrativa é um tanto misteriosa, obscura, quase impenetrável.
Partindo de um conto do século XIX, o enredo tem como protagonista a jovem Nie Yinniang (Qi Shu), que, aos 10 anos, foi tirada de sua família por uma monja, Jiaxin (Sheu Fang-yi), e treinada para matar corruptos e opressores. Ela se torna uma das mais competentes em sua função, exceto quando não consegue cumprir uma missão porque sua vítima estava brincando com o filho pequeno.
Como punição, Nie deve voltar à sua aldeia, Weibo, e matar o governador local, Tian Ji’an (Chang Chen). Mas um problema se impõe: ele é seu primo, e ela foi prometida a ele quando pequena. O conflito está armado, tanto no campo político, quanto pessoal, para a lutadora de artes marciais.
Mesmo com todo o apuro visual – o vermelho e o dourado são tons dominantes no interior, que parecem antecipar ou, às vezes, metaforizar o sangue derramado – Hou não se aprofunda no perfil psicológico de suas personagens. Seu distanciamento glacial e ares de “filme de arte” levantam novamente um debate que “O Tigre e o Dragão”, de Ang Lee, trouxe à tona, em 2000. O “wuxia” é um gênero popular, que rendeu filmes de ação, muitas vezes baratos e pouco apurados visual e tecnicamente. A excelência de Hou nesse sentido estaria, então, mais sintonizada com as sensibilidades ocidentais.
Será que é o caso? Em alguns momentos, “A Assassina” chega a lembrar um faroeste, com guerreiros e cavalos, numa paisagem a perder de vista. Mas o cenário e o momento histórico são outros, e o esmero estético também indica para outro caminho. Por mais que se amenize, dizendo que o filme é enigmático, ao mesmo tempo, ele é nebuloso. Sua beleza remete a pinturas chinesas, resultando em algo tão belo quanto estático.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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