Cleiton Vilarino.
São Paulo, 31 ago (EFE).- A economia do Brasil desacelerará em 2013 no compasso dos Brics, que viveram um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 5% em 2010, com expectativas de taxas altas para as próximas décadas, mas que desde 2011 começaram a reduzir suas projeções, afirmaram analistas.
"O modelo de crescimento nos últimos governos esteve muito focado no mercado interno, mas o principal fator que dava dinamismo era o externo, principalmente com a alta das matérias-primas", assinalou a Agência Efe Edison Benedito da Silva Filho, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
A Índia, que em 2009 apresentava um crescimento de 8%, chegou a impressionantes 11% em 2010, mas ano passado teve um avanço de só 3%, enquanto a Rússia, com uma contração de 8% em 2009, se recuperou nos dois anos seguintes com saltos de 5% e 4%, e diminuiu o índice de crescimento para moderados 3% em 2012.
No Brasil, o crescimento recorde dos últimos em 30 anos foi em 2010, 7,5%, que se reduziu bruscamente para 2,7 % em 2011 e para modestos 0,9% ano passado. Para 2013 as projeções foram revistas algumas vezes de inicialmente 4% até chegar a 2,2% pelo Boletim Focus do Banco Central (BC).
O mercado batalha para alcançar um crescimento de 2,5%, e tem como desafios a desvalorização do real frente ao dólar e um crescimento industrial de 1,92 %.
Para o técnico de planejamento do Ipea, a queda é um reflexo de um vínculo muito forte entre os países em desenvolvimento e as economias "centrais" da Europa e Estados Unidos.
A China, que é um grande importador de matérias-primas e tem a economia integrada com as cadeias de produção das multinacionais, apresenta uma desaceleração compatível com o crescimento explicou Silva Filho. "A China é um gigante e desacelera como um gigante", afirmou.
O coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, os Brics sofrem as consequências da recuperação dos países desenvolvidos e de um otimismo exagerado dos investimentos que entraram em 2010.
A burocracia e a falta de infraestrutura, segundo Stuenkel, pesaram para que Brasil e Índia sofressem mais com a crise do que os outros dois países.
"É um problema muito sério e que não tem solução em curto prazo", alertou o professor, que deu como exemplo a colheita recorde de grãos no início do ano, que teve o escoamento prejudicado por causa da falta de infraestrutura de armazenamento e transporte, o que elevou o custo e diminui o lucro dos exportadores.
Somados os problemas, o Brasil registrou entre janeiro e agosto um saldo negativo de US$ 3,85 bilhões na balança comercial, bem diferente do balanço positivo de US$ 13,2 bilhões no mesmo período de 2012.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta para este ano um déficit na balança comercial de US$ 2 bilhões, o primeiro resultado negativo em 13 anos.
O presidente da AEB, José Augusto de Castro, mostrou que as projeções se baseiam na diminuição de exportação do petróleo e na valorização entre 2007 e 2012 do real, pois os efeitos do fenômeno inverso, a desvalorização da moeda em relação ao dólar, só vai ser sentido em 2014 com a retomada das exportações.
O economista britânico Jim O'Neill, autor da sigla Brics, declarou durante o 6º Congresso Internacional de Bovespa, que o futuro do Brasil "não é tão triste". Em comparação com a China, O'Neill disse que o "gigante asiático tem um impacto mais forte no mundo que qualquer outro país" e que sua desaceleração obedece a uma "vontade própria para melhorar a qualidade de seu crescimento".
No mesmo encontro, o Nobel de Economia de 2011, o americano Thomas Sargent, afirmou que o dólar "não será para sempre" uma referência no mercado cambial mundial. EFE
São Paulo, 31 ago (EFE).- A economia do Brasil desacelerará em 2013 no compasso dos Brics, que viveram um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) superior a 5% em 2010, com expectativas de taxas altas para as próximas décadas, mas que desde 2011 começaram a reduzir suas projeções, afirmaram analistas.
"O modelo de crescimento nos últimos governos esteve muito focado no mercado interno, mas o principal fator que dava dinamismo era o externo, principalmente com a alta das matérias-primas", assinalou a Agência Efe Edison Benedito da Silva Filho, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
A Índia, que em 2009 apresentava um crescimento de 8%, chegou a impressionantes 11% em 2010, mas ano passado teve um avanço de só 3%, enquanto a Rússia, com uma contração de 8% em 2009, se recuperou nos dois anos seguintes com saltos de 5% e 4%, e diminuiu o índice de crescimento para moderados 3% em 2012.
No Brasil, o crescimento recorde dos últimos em 30 anos foi em 2010, 7,5%, que se reduziu bruscamente para 2,7 % em 2011 e para modestos 0,9% ano passado. Para 2013 as projeções foram revistas algumas vezes de inicialmente 4% até chegar a 2,2% pelo Boletim Focus do Banco Central (BC).
O mercado batalha para alcançar um crescimento de 2,5%, e tem como desafios a desvalorização do real frente ao dólar e um crescimento industrial de 1,92 %.
Para o técnico de planejamento do Ipea, a queda é um reflexo de um vínculo muito forte entre os países em desenvolvimento e as economias "centrais" da Europa e Estados Unidos.
A China, que é um grande importador de matérias-primas e tem a economia integrada com as cadeias de produção das multinacionais, apresenta uma desaceleração compatível com o crescimento explicou Silva Filho. "A China é um gigante e desacelera como um gigante", afirmou.
O coordenador do MBA em Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas, Oliver Stuenkel, os Brics sofrem as consequências da recuperação dos países desenvolvidos e de um otimismo exagerado dos investimentos que entraram em 2010.
A burocracia e a falta de infraestrutura, segundo Stuenkel, pesaram para que Brasil e Índia sofressem mais com a crise do que os outros dois países.
"É um problema muito sério e que não tem solução em curto prazo", alertou o professor, que deu como exemplo a colheita recorde de grãos no início do ano, que teve o escoamento prejudicado por causa da falta de infraestrutura de armazenamento e transporte, o que elevou o custo e diminui o lucro dos exportadores.
Somados os problemas, o Brasil registrou entre janeiro e agosto um saldo negativo de US$ 3,85 bilhões na balança comercial, bem diferente do balanço positivo de US$ 13,2 bilhões no mesmo período de 2012.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) projeta para este ano um déficit na balança comercial de US$ 2 bilhões, o primeiro resultado negativo em 13 anos.
O presidente da AEB, José Augusto de Castro, mostrou que as projeções se baseiam na diminuição de exportação do petróleo e na valorização entre 2007 e 2012 do real, pois os efeitos do fenômeno inverso, a desvalorização da moeda em relação ao dólar, só vai ser sentido em 2014 com a retomada das exportações.
O economista britânico Jim O'Neill, autor da sigla Brics, declarou durante o 6º Congresso Internacional de Bovespa, que o futuro do Brasil "não é tão triste". Em comparação com a China, O'Neill disse que o "gigante asiático tem um impacto mais forte no mundo que qualquer outro país" e que sua desaceleração obedece a uma "vontade própria para melhorar a qualidade de seu crescimento".
No mesmo encontro, o Nobel de Economia de 2011, o americano Thomas Sargent, afirmou que o dólar "não será para sempre" uma referência no mercado cambial mundial. EFE