O presidente do Bradesco (BVMF:BBDC4), Octavio de Lazari Junior, disse nesta sexta-feira, 4, que o banco está avaliando repassar o corte na Selic anunciado na quarta-feira, 2 (de 13,75% para 13,25% ao ano), aos empréstimos. Ele disse que ainda não há uma decisão, mas que, nas linhas em que houver espaço, o banco fará a redução das taxas.
"Estamos avaliando (reduzir os juros) em todas as linhas de crédito", disse Lazari. Segundo ele, o banco está revendo "linha por linha". "Nas que tivermos oportunidade, vamos reduzir", afirmou o executivo.
Na quinta-feira, 3, o Itaú Unibanco (BVMF:ITUB4) informou que repassará o corte dos juros às linhas de crédito pessoal. Na quarta-feira, Banco do Brasil (BVMF:BBAS3) e Caixa Econômica Federal (CEF) informaram ter reduzido os juros de diferentes linhas de crédito.
Rotativo
Lazari disse também que o crédito rotativo dos cartões ainda está em discussão entre os bancos, o Ministério da Fazenda e o Banco Central. Na visão dele, a solução para reduzir os juros da modalidade não será a ideal, mas terá de atender a todos os agentes envolvidos. "Os juros do rotativo são uma questão complexa, não tem uma solução simples para isso, até porque são muitos atores."
De acordo com o executivo, uma evolução no produto será necessária para que os juros caiam.
Ele voltou a defender que os juros do rotativo estão associados ao parcelado sem juros, funcionando como uma espécie de subsídio cruzado. A tese é defendida pelos bancos e por parte da indústria de cartões, mas contestada por algumas fintechs e credenciadoras, e também pelas varejistas.
"Tem uma distorção, e o risco está com os bancos no parcelado sem juros", disse ele.
Segundo Lazari, a solução para a questão não é impor um teto aos juros, porque isso poderia gerar outros problemas no mercado.
Ele afirmou que o prazo de 90 dias dado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para que a uma solução seja apresentada é factível.
Retorno gradual
O executivo disse ainda, durante coletiva de imprensa para comentar os resultados do banco no segundo trimestre, que o Bradesco quer voltar aos patamares históricos de rentabilidade, próximos a 20%, mas que este processo será gradual.
Segundo ele, a demanda por crédito deve começar a voltar pelas grandes empresas, chegando por último às pessoas físicas. "Temos como objetivo voltar aos retornos históricos que o banco teve, mas esse retorno vai ser gradual, até por cautela", disse.
O Bradesco encerrou o segundo trimestre com lucro líquido recorrente de R$ 4,518 bilhões. O resultado é 35,8% menor que o do mesmo intervalo do ano passado, mas veio 5,6% acima do registrado no primeiro trimestre deste ano.
"O resultado do segundo trimestre mostrou uma evolução de 6% em relação ao primeiro trimestre, e veio dentro de nossas expectativas", disse Lazari.
Segundo ele, o banco começa a ver resultados das ações que tem tomado. Na tesouraria, por exemplo, espera uma melhora contínua dos resultados no segundo semestre deste ano e também em 2024, diante das mudanças de precificação da carteira do banco.
Ainda de acordo com ele, a concessão de crédito mais conservadora começa a dar resultados nos índices de inadimplência. "Já temos bons resultados no controle da inadimplência, principalmente no índice de 15 a 90 dias de atraso", afirmou.
Lazari disse que graças a esse controle, o banco poderá voltar a conceder crédito de forma mais ampla em carteiras selecionadas, e que tem uma fila importante de operações no segmento de atacado para o segundo semestre.
"As linhas para médias e grandes empresas devem ter um crescimento maior, até pelos investimentos que elas têm de fazer", comentou. "As de pequenas e médias empresas continuam com crescimento mais deprimido."
Lazari afirmou que, entre as pessoas físicas de baixa renda, os níveis de endividamento continuam altos, o que impede uma retomada mais forte das concessões de crédito. O Bradesco, historicamente, tem forte exposição a este público, e no último ano, tem reduzido as concessões ao segmento.
Para o executivo, a melhora do cenário para a economia brasileira no segundo semestre deixa espaço para um maior otimismo com o crédito até o final do ano. Ainda de acordo com ele, os efeitos da covid-19 sobre a qualidade dos ativos ficaram para trás. "Os efeitos da pandemia já se dissiparam", disse.