Por Guillermo Parra-Bernal
SÃO PAULO (Reuters) - A família Batista contratou o BR Partners Banco de Investimento para mediar as conversas com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que busca afastar o empresário Wesley Batista da presidência da JBS (SA:JBSS3), disseram duas pessoas familiarizadas com a decisão nesta terça-feira.
Segundo as fontes, a holding J&F Investimentos incumbiu o BR Partners de negociar a suspensão da assembleia extraordinária de 1º de setembro, na qual investidores da JBS decidirão sobre a saída de Wesley Batista da presidência-executiva da companhia.
Os irmãos Joesley e Wesley Batista e outros executivos da J&F e JBS acertaram em maio um acordo de delação premiada que expôs denúncias de corrupção e envolveram o presidente Michel Temer. As denúncias levaram a JBS a iniciar um programa de venda de ativos de 6 bilhões de reais e negociar acordos com bancos sobre seu endividamento. O BNDES defende a abertura de processo de responsabilidade contra os executivos.
O BNDESPar atribui a queda das ações da empresa de alimentos neste ano à conduta da família Batista. Até a véspera, as ações da JBS acumulam perda de 20 por cento no ano, apesar do ganho acumulado no mês de agosto de 18 por cento.
Conforme uma das fontes, a J&F, por meio do BR Partners, pediu na segunda-feira ao BNDESPar que suspenda a assembleia por 90 dias.
O vice-presidente da Associação de Acionistas Minoritários (Aidmin), Aurélio Valporto, afirmou à Reuters que não recebeu o pedido de adiamento da assembleia, mas considera o documento uma manobra para adiar a saída de Wesley Batista da presidência-executiva da JBS.
"Nós não concordamos com isso e o BNDES também não pode. Vejo isso como uma manobra para eles ganharem tempo e talvez conseguirem na Justiça uma medida para prolongar a permanência dos Batista", disse Valporto.
Representantes do BNDES não comentaram o assunto.
De acordo com uma fonte do BNDES que pediu para não ser identificada, "se estivessem seguros da permanência (de Wesley na presidência da JBS) não teriam pedido o adiamento da assembléia".
"Foi um pedido via carta; não importa por quanto tempo foi o pedido de adiamento, mas é um sinal", acrescentou a fonte do banco.
O movimento ocorre depois de o BNDESPar pedir à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que impeça os Batista de votar na assembleia - a família detém uma fatia de 42 por cento na JBS.
Quase uma dúzia de executivos de bancos, acionistas e membros da empresa que pediram condição de anonimato disseram à Reuters estarem céticos em relação ao argumento da família Batista de que é a única capaz de concluir duas vendas de ativos da JBS e abrir o capital de operações internacionais nos Estados Unidos no ano que vem.
O BR Partners se recusou a comentar, enquanto um porta-voz da J&F não estava imediatamente disponível para comentário.
(Com reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)