Por Marcela Ayres
BRASÍLIA (Reuters) - O Tesouro Nacional captou nesta quinta-feira 2 bilhões de dólares com sua segunda emissão de títulos sustentáveis em dólares no mercado internacional, informou a instituição, em iniciativa que busca reafirmar o compromisso do governo com políticas sustentáveis e capitalizar o crescente interesse de investidores estrangeiros.
De acordo com o Tesouro, o rendimento do título ficou em 6,375%, valor abaixo da referência inicial e também inferior ao da primeira emissão de títulos sustentáveis do país, no ano passado. Mais cedo, uma fonte com conhecimento do assunto, havia antecipado essas informações à Reuters.
O Tesouro disse em comunicado mais cedo que a emissão do título com duração de sete anos, vencendo em 2032, seria liderada por Bank of America (NYSE:BAC), Goldman Sachs (NYSE:GS) e HSBC e que os resultados da operação serão detalhados no final do dia.
"A emissão reforça o papel importante da dívida externa em termos de alongamento de prazo, diversificação de indexadores e da base de investidores", disse o Tesouro.
O "initial price talk", referência inicial de preços para sentir o interesse dos investidores, foi de 6,625%, de acordo com a fonte, informação que foi confirmada por uma segunda fonte familiarizada com o assunto. Ambas pediram anonimato para discutir a transação.
Os ativos brasileiros sofreram nas últimas semanas, mas o Credit Default Swap de cinco anos, que mede o nível de risco do país, não reagiu tão intensamente e está sendo negociado um pouco abaixo do nível observado na estreia do Brasil nas emissões de títulos soberanos sustentáveis, em novembro de 2023.
A primeira fonte disse que, apesar de o Brasil não ter uma nota de crédito com grau de investimento, o país emitiu títulos soberanos desde o ano passado com rendimentos semelhantes aos do México, um mercado emergente com recomendação de grau de investimento. O mesmo era esperado nesta quinta-feira, acrescentou a fonte.
Uma segunda autoridade disse que "ruídos internos" agitaram os mercados domésticos, mas ressaltou que os investidores estrangeiros estão mais concentrados nos fundamentos econômicos, que não sofreram nenhum grande retrocesso desde o ano passado.
Temores sobre interferência política no Banco Central e as dificuldades do governo para equilibrar as contas públicas azedaram os mercados financeiros neste mês, enfraquecendo a moeda brasileira e elevando os juros futuros.
Depois que o BC decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros inalterada em 10,50% ao ano na quarta-feira, os ativos brasileiros abriram a sessão desta quinta em alta, mas o índice de ações da Bovespa perdia fôlego no início da tarde e o dólar passou a subir frente ao real.
No final de maio, o Tesouro indicou que 50% a 60% dos recursos de seus próximos títulos sustentáveis seriam destinados a despesas ambientais e 40% a 50% a despesas sociais, semelhante à alocação de seus primeiros títulos soberanos sustentáveis, que levantaram 2 bilhões de dólares em novembro.
Ao anunciar seu plano de financiamento anual, o governo já havia previsto uma presença maior no mercado de dívida internacional este ano.
O governo disse que a meta era emitir títulos tradicionais e sustentáveis em 2024 principalmente para desenvolver a curva da taxa de juros soberana, que serviria de referência para o setor corporativo brasileiro.
A primeira operação com emissão de títulos sustentáveis, de novembro, captou 2 bilhões de dólares, com remuneração dos papéis ficando em 6,50% ao ano. O lançamento foi considerado um sucesso pelo governo.
Desde então, membros do Ministério da Fazenda vinham afirmando que uma nova emissão poderia ser feita neste ano, a depender da abertura de uma janela adequada de mercado.
O prazo médio da dívida externa do Brasil está atualmente em 7,07 anos, segundo dados de abril do Tesouro, acima dos 6,78 anos observados no fim de 2023.
(Por Marcela Ayres, reportagem adicional de Bernardo Caram)