Por Ana Julia Mezzadri
Investing.com - Apesar de, no início da crise de Covid-19, ter enfrentado obstáculos tecnológicos para alcançar seus concorrentes nos canais digitais, a Via Varejo (VVAR3) agora tem tido crescimento significativo em e-commerce e marketplace, afirmaram os executivos da companhia em teleconferência com analistas e imprensa nesta quinta-feira (13), e aposta na logística e no crediário digital como diferenciais.
Atualmente, segundo Roberto Fulcherberguer, CEO do grupo, a companhia tem uma estrutura de capital sólida para conseguir todo o crescimento que busca. No segundo trimestre, toda a perda de receita causada pelo fechamento das lojas físicas foi compensada pelo online. No trimestre, do total de vendas de R$ 7,3 bilhões, R$ 5,1 bilhões foram online, o que representa crescimento de 51,5% em relação ao mesmo período de 2019.
Um dos maiores investimentos da companhia atualmente é no marketplace, que já tem crescimento robusto, de 180% no total de vendas em relação ao segundo trimestre de 2019, e deve ganhar tração nos próximos trimestres, segundo Fulcherberguer. Atualmente, 4,2 milhões de SKUs de mais de 6 mil lojistas já estão presentes na plataforma.
Como principais diferenciais de seu marketplace, a companhia aponta a grande rede de lojas como apoio logístico e o crediário digital. Nesse aspecto, a logística funciona como um dos grandes pilares de sustentação da companhia e a diferencia do restante do mercado. Um dos objetivos da Via Varejo nesse âmbito é a criação de 500 mini hubs logísticos ainda no terceiro trimestre.
Em relação ao crediário digital, hoje a Via Varejo diz que já tem R$ 120 milhões em carteira. O carnê, instrumento tradicional da companhia e que, segundo Orivaldo Padilha, vice-presidente de finanças da empresa, sempre se mostrou resiliente, tem grande potencial de apoiar o crescimento dos canais digitais, sobretudo em um momento em que muitos bancos reduziram os limites de cartão de crédito de seus clientes. “É um nível de serviço inclusivo para os consumidores que estão chegando no online”, explica o CEO.
Entre as principais metas do e-commerce nos próximos meses, a companhia destaca a melhora da conversão. Além disso, está em curso um projeto para repensar a precificação e aumentar, em consequência, as vendas ou as margens. A Via Varejo pretende ainda lançar os aplicativos da Ponto Frio e do Extra.com antes da Black Friday.
Apesar de todo o crescimento dos canais digitais, a companhia afirma que as lojas que já foram reabertas têm registrado crescimento relevante. Apesar de afirmar ser difícil apontar as razões para esse crescimento, Fulcherberguer menciona como possibilidades o enfraquecimento de outros setores e o fato de muitas pessoas no Brasil não comprarem pela internet, o que pode ter gerado uma demanda reprimida no período de fechamento das lojas.
Outro setor que deve se beneficiar da reabertura de lojas físicas é a venda de serviços, que é prejudicada pelo e-commerce. Agora, a expectativa da companhia é que volte a transitar para os volumes anteriores.
Há ainda como destaque no período a compra do banco digital BanQi. “Nossa expectativa é que o BanQi vire a carteira digital da classe C brasileira”, explica Rodrigo. Em termos de sinergia, a companhia espera que, em um primeiro momento, a Via Varejo mande muitos clientes para o BanQi, que em um segundo momento traria recorrência para a Via Varejo.
As ações da Via Varejo lideraram os ganhos do Ibovespa hoje e teve o maior volume negociado, influenciadas pelo resultado acima do consenso do mercado. Os papéis subiram 3,47% a R$ 18,79, com máxima em R$ 19,86 e volume negociado de R$ 3,51 bilhões.
Balanço
A Via Varejo teve lucro líquido contábil de 65 milhões de reais no segundo trimestre, revertendo prejuízo de 162 milhões de reais um ano antes.
Ainda assim, a companhia teve prejuízo operacional de 176 milhões de reais, em razão da queda de receita, custos fixos vinculados ao fechamento de lojas na pandemia e aumento da despesa financeira. Mas a perda foi menor do que um ano antes (296 milhões de reais).
O resultado também contempla crédito transitado em julgado de ICMS na base PIS/Cofins totalizando 364 milhões de reais no segundo trimestre.
A receita líquida caiu 12,4%, para 5,28 bilhões de reais, enquanto a receita bruta recuou 7,8%, a 6,46 bilhões de reais, mas com alta na margem bruta de 27,9% para 35,3%. A receita bruta nas lojas físicas caiu 63%, a 2,18 bilhões de reais, enquanto do online saltou quase 300%, a 4,28 bilhões de reais.
As vendas totais do ecommerce, incluindo marketplace, e lojas (GMV - Gross Merchandise Volume) ficaram quase estáveis (+0,5%) no segundo trimestre, a 7,26 bilhões de reais, enquanto o GMV apenas do comércio online, incluindo marketplace, saltou para 5 bilhões de reais, de 1,3 bilhão um ano antes.
No segundo trimestre, as despesas com vendas, gerais e administrativas cresceram 0,7%, para 1,365 bilhão de reais, com aumento também do percentual em relação à receita para 25,9%, de 22,5% um ano antes. Excluindo fatores não recorrentes, essas despesas caíram 9,7%.
A inadimplência acima de 90 dias alcançou 13,5% no final do trimestre, mas a companhia disse que observou forte melhora dos recebimentos durante maio e junho, e que julho e agosto continuam fortes.
O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) cresceu 71,7% no segundo trimestre ante o mesmo período do ano anterior, para 532 milhões de reais, com margem Ebitda avançando de 5,1% para 10,1%. Em termos ajustados, totalizou 555 milhões de reais (+45,7%), com a margem subindo a 10,5%.
O Ebitda ajustado operacional teve acréscimo de 76%, a 314 milhões de reais, com alta de 2,9 pontos percentuais na margem Ebitda operacional ajustada, a 5,9%.
O resultado financeiro líquido de efeitos não recorrentes ficou negativo em 323 milhões de reais, alta de 18% ano a ano, representando 6,1% da receita líquida, ante 4,6% um ano antes, afetado por CCB (cédula de crédito bancário) e alongamento de dívidas.
A Via Varejo disse que encerrou o segundo trimestre com uma posição de caixa total de 7,4 bilhões de reais e caixa líquido ajustado de 2,9 bilhões de reais, incluindo a carteira de recebíveis não descontados e alongamento via instrumento financeiro de dívida.
-Com participação da Reuters