LIMA (Reuters) - A falta de progresso real em uma conferência do clima em Lima, que terminou nas primeiras horas da manhã de domingo, prejudica as chances de alcançar um acordo global no próximo ano, que iniba eficazmente as alterações climáticas e administre seus impactos, disseram especialistas.
Países devem alcançar um acordo sobre a forma de lidar com as mudanças climáticas para além de 2020, numa reunião em Paris, no fim de 2015. O acordo terá um impacto global em energia, transportes e políticas de desenvolvimento para as próximas décadas.
Lima teve uma agenda simples: acordar o escopo e o cronograma para o acordo de Paris.
Mas os países ficaram divididos em ambos os grandes fundamentos e muitos dos detalhes de um futuro acordo, e a reunião terminou com uma agenda muito mais modesta do que muitos esperavam.
Os países em desenvolvimento temem qualquer acordo que vá obrigá-los a estabelecer objetivos ambiciosos para reduzir as emissões de carbono, argumentando que isso é injusto, porque eles devem ter permissão para se desenvolver.
Os países ricos, que produziram a maior parte das emissões das mudanças climáticas do mundo até agora, dizem que chegou a hora de todos ajudarem.
A decisão final em Lima, alcançada após as negociações que excederam as duas semanas de sua programação em mais de 30 horas, diluiu uma versão anterior, excluindo qualquer revisão dos compromissos dos países que a tornava mais rigorosa.
Ela também excluiu uma revisão técnica de apoio financeiro aos países em desenvolvimento.
Os países em desenvolvimento insistiram em uma referência explícita às diferenças entre eles e o mundo desenvolvido, abatendo uma sugestão anterior de que alguns países mais pobres deveriam assumir responsabilidades muito maiores para limitar as emissões.
Se os países em desenvolvimento concordassem com essa medida – que a ONU chama de "auto-diferenciação" - países ricos disseram que dariam mais ajuda financeira.
"Nós ainda vivemos em um mundo de profundas desigualdades", disse José Antonio Marcondes de Carvalho, o principal negociador para o Brasil. "A noção de auto-diferenciação é o mesmo que a aniquilação da Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas".
Vários países em desenvolvimento contribuíram para um novo Fundo Verde do Clima, que ultrapassou 10 bilhões de dólares em Lima, incluindo o México, Coreia do Sul, Peru e Colômbia.
A China também disse antes das negociações que só permitiria as emissões crescerem até 2030, para então reduzí-las.
As negociações da ONU têm a tarefa árdua de conseguir um consenso não só entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento, mas também entre os mais vulneráveis às alterações climáticas e exportadores de petróleo que podem sair perdendo em consequência dos cortes mais duros sobre as emissões de carbono.
Um acordo mais ambicioso em Paris poderá, em teoria, lançar um processo diplomático que aumente regularmente as metas para a redução das emissões de carbono para atingir a meta de longo prazo de alcançar emissões zero de gases com efeito de estufa no final deste século.
(Por Gerard Wynn)