Alta em tarifas EUA-China pode desencadear recessão e desvio de comércio, diz ONU

Publicado 04.02.2019, 15:53
© Reuters. Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York

GENEBRA (Reuters) - O plano dos Estados Unidos de elevar tarifas sobre a China no próximo mês poderá desencadear uma recessão econômica e permitir que outros países assumam cerca de 200 bilhões de dólares das exportações chinesas, mostrou um estudo da agência de comércio e desenvolvimento das Nações Unidas, a UNCTAD, nesta segunda-feira.

Os EUA impuseram tarifas adicionais de entre 10 e 25 por cento sobre 250 bilhões de dólares em bens chineses no ano passado como punição para o que chamou de práticas comerciais injustas, e as tarifas de 10 por cento estão programadas para subirem a 25 por cento a menos que haja um avanço significativo em um acordo comercial até 1º de março.

"As implicações serão enormes", disse a chefe de comércio internacional da UNCTAD, Pamela Coke-Hamilton, em uma coletiva de imprensa. "As implicações para todo o sistema internacional de comércio serão significativamente negativas".

Ela disse que a alta de tarifas pelos EUA e uma medida retaliatória da China poderiam desencadear uma recessão econômica devido à instabilidade em commodities e mercados financeiros, enquanto decisões de companhias para se adaptarem colocariam pressão sobre o crescimento global.

"Haverá guerras cambiais e desvalorização, estagflação levando a perdas de emprego e maior desemprego e, mais importante, a possibilidade de um efeito contágio, ou o que chamamos de efeito de reação, levando a uma cascata de outras medidas comerciais distorcionárias".

Países menores e mais pobres teriam dificuldades de lidar com tais choques externos, disse ela.

O custo mais elevado do comércio EUA-China levaria companhias a se afastarem das atuais cadeias de fornecimento no leste da Ásia, mas o impacto das tarifas não beneficiaria primariamente as empresas norte-americanas.

Companhias dos EUA captariam apenas 6 por cento dos 250 bilhões de dólares das exportações chinesas afetadas, enquanto empresas chinesas reteriam 12 por cento, apesar do custo mais elevado de comércio, disse o estudo.

© Reuters. Sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York

Outros países captariam uma parcela estimada em 82 por cento do valor de 250 bilhões de dólares em exportações chinesas e 85 por cento dos 85 bilhões de dólares em exportações dos EUA atingidas pelas tarifas.

"A União Europeia vai capturar 70 bilhões de dólares do comércio EUA-China. Japão, México e Canadá vão tomar conta de mais de 20 bilhões de dólares cada".

(Por Tom Miles)

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