RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Brasil recebeu formalmente nesta quinta-feira o retorno da Dinamarca de um manto sagrado tupinambá, feito com 4 mil penas vermelhas de guará, que havia sido levado pelos europeus durante a colonização no século 17.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da cerimônia no Museu Nacional no Rio de Janeiro, marcando a importância que o país dá para a repatriação do item.
O manto, uma capa cerimonial usada em rituais religiosos pelo povo tupinambá, na Bahia, foi levado durante a ocupação holandesa da área.
A primeira menção ao item surge em 1689, em um inventário dinamarquês, ainda que seja possível que o manto tenha sido retirado do território brasileiro 50 anos antes.
No século 21, fazia parte da coleção etnográfica do Museu Nacional da Dinamarca, o Nationalmuseet. No ano 2000, o museu emprestou o manto para uma exibição em São Paulo.
Uma líder tupinambá viu a mostra e demandou o seu retorno. No ano passado, depois de longas negociações diplomáticas, o museu dinamarquês anunciou que iria doar o manto para o Museu Nacional Brasileiro e o item foi repatriado em julho.
Ao todo, 170 tupinambás viajaram do sul da Bahia para o Rio de Janeiro para celebrar o retorno da peça.
"É fundamental que eles devolvam o que não é deles e é nosso por direito. Nossa herança fortalece a nossa identidade", disse a cacica Jamopoty Tupinambá para a Agência Brasil.
Das primeiras viagens portuguesas ao Brasil no início do século 16, itens culturais indígenas foram levados para a Europa como evidência da descoberta de novos territórios e passaram a fazer parte de acervo de museus ou de coleções privadas.
Um afresco de 1674 no teto do salão Apolo no Palácio de Versalhes, a sala do trono real, apresenta a recém-descoberta América como uma mulher vestindo o manto tupinambá como se fosse um cocar.
De acordo com a ativista do patrimônio cultural Gliceria Tupinambá, existem outros 10 mantos como esse espalhados em museus e bibliotecas na Itália, França, Bélgica, Suíça e na própria Dinamarca, na qual o Museu Nacional ainda possui um manto grande e outros três parciais.
“Levou mais de 20 anos para recuperarmos o manto. O seu retorno é um símbolo da proteção dos nosso direitos culturais e do território que, hoje, no Brasil, estão ameaçados”, ela disse.
(Reportagem de Sergio Queiroz e Ricardo Moraes no Rio de Janeiro e Anthony Boadle em Brasília)