Por David Alire Garcia
NOGALES, México (Reuters) - A vitória eleitoral de Donald Trump e os planos dele para reprimir a imigração ilegal são tão preocupantes para os grupos de homens reunidos logo ao sul da cerca alta e enferrujada da fronteira entre os Estados Unidos e o México que alguns estão até mesmo considerando voltar para casa.
Para a maioria dos viajantes mexicanos e da América Central em abrigos na cidade de Nogales, no deserto, as ameaças de Trump de construir um muro em toda a fronteira e deportar milhões de imigrantes ilegais não os fizeram abandonar a desgastante jornada e as esperanças de uma vida melhor no norte.
Contudo, para alguns como Juan Alberto Lopes, a perspectiva de viver num país que pode se tornar mais hostil a pessoas como ele não oferece mais atrativo suficiente para a arriscada passagem na desolada região de fronteira do Arizona.
"Agora tudo mudou”, afirmou Lopez, de 25 anos, sentado do lado de fora um centro de imigrantes.
Lopez é de Chiapas, no sul do México, o Estado mais pobre do país, e viveu por dois anos no Arizona e em Utah, trabalhando em construção, até ser deportado em janeiro. De acordo com uma das propostas de Trump, ele enfrentaria dois anos numa prisão federal se fosse pego retornando após deportação.
Ele havia decidido voltar aos EUA quando a candidata democrata, Hillary Clinton, estava cotada para ganhar a eleição. Agora, ele planeja buscar trabalho em Nogales ou voltar para casa.
"Eles vão prender todos os imigrantes. Se é assim, é melhor ficar aqui com a sua própria gente, ser feliz, e apenas suportar”, acrescentou, ecoando os sentimentos de um terço de mais de uma dezena de imigrantes entrevistados pela Reuters.
A proposta de Trump em relação a imigrantes ajudou a provocar uma corrida à fronteira uma vez que alguns calcularam que era melhor cruzar antes da eleição, para o caso de uma vitória do republicano. Isso poderia continuar nos próximos meses mesmo que pessoas como Lopez decidam não mais querer viver nos EUA.
Durante o ano fiscal de 2016, terminado em setembro, o número de pessoas detidas na fronteira ultrapassou 408 mil, um aumento de 23 por cento em relação ao ano passado, mas menos do que em 2014, segundo dados oficiais dos EUA.
"Eu não ligo para o presidente Trump. Eu vou sempre cruzar, e não importa qualquer muro que ele queira”, disse Alexi Solano, de 20 anos, de El Salvador. A mulher e o filho dele já estão em Los Angeles.
“Isso não importa para nós. O que queremos é ficar junto com as nossas famílias.”
Humberto Roque Villanueva, responsável por migração no Ministério do Interior mexicano, afirmou esperar que o fluxo aumente em 2016, ao mesmo tempo que Trump vai intensificar as já duras políticas de deportação usadas pelo presidente Barack Obama.
"Uma certa radicalização da política norte-americana de imigração está vindo”, declarou ele.