BRASÍLIA (Reuters) - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta-feira que pretende nos próximos 30 dias ter uma "posição" sobre pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff protocolado na Casa, mas ponderou que o impedimento não pode ser usado como recurso eleitoral.
O deputado, que já rejeitou outros pedidos, disse aguardar posicionamento de áreas técnicas da Câmara e de juristas de fora da Casa para definir sua posição, mas afirmou que um impedimento seria "fato grave".
"Eu pedi mais de uma análise jurídica e estou aguardando que cheguem as análises jurídicas, para eu mesmo ler as análises jurídicas e o pedido, e formar o meu convencimento", disse em entrevista a jornalistas. "Eu pretendo nos próximos 30 dias ter uma posição sobre isso."
"Na tese, a minha posição é que o impedimento tem que ser usado na forma da Constituição e não como recurso eleitoral, essa é minha tese."
Caso Cunha rejeite um pedido de impeachment contra Dilma, é possível que os defensores da abertura do processo de impedimento recorram da decisão do presidente ao plenário da Casa.
PMDB E GOVERNO
Questionado sobre os recentes posicionamentos públicos de lideranças do PMDB a favor de uma candidatura própria à Presidência da República em 2018, Cunha afirmou que todos aqueles com alguma influência dentro do partido passaram a convergir sobre o assunto.
"Ontem (quarta-feira), por acaso teve um evento em que todos falaram a mesma língua", disse o presidente da Câmara, referindo-se a evento de lançamento de plataforma digital de fundação ligada ao PMDB, ocasião em que diversas lideranças se manifestaram a favor da candidatura própria.
"O que nos une a todos é que ninguém aguenta mais aliança com o PT", afirmou Cunha, que se tornou uma dor de cabeça para o governo no Congresso desde que assumiu a presidência da Câmara.
Para o deputado, o discurso unificado do PMDB a favor de uma candidatura própria para a Presidência em 2018 foi um "recado" à sociedade. O presidente não descartou que o partido pudesse deixar o governo antes de 2018, referindo-se à hipótese como algo que não seria "improvável", mas ponderou que o partido tem "responsabilidade" e "obrigação moral" de garantir uma governabilidade mínima.
Governabilidade, aliás, classificada como "frágil" por Cunha, que também afirmou que o governo já não conta com uma maioria firme e consolidada no Congresso. Para ele, as medidas do ajuste fiscal do Executivo só passaram no Congresso graças à atuação do vice-presidente da República, Michel Temer, a quem aconselhou novamente que deixe o posto de articulador político do governo.
O presidente alertou ainda que parlamentares estariam dispostos a aprovar medidas que possam trazer alguma melhora ao ambiente econômico, mas não devem ser aprovadas propostas de aumento de carga tributária "disfarçado".
(Por Maria Carolina Marcello)