BRASÍLIA (Reuters) - O governo se mobilizou nesta segunda-feira para desmontar a tese de crise e de um eventual impeachment da presidente Dilma Rousseff e aproveitou também para minimizar rumores de um desembarque do vice-presidente Michel Temer da articulação política.
Em entrevista coletiva após cerca de três horas de reunião com Dilma e representantes de partidos que compõem a base, Temer afirmou que a presidente não está preocupada com as movimentações da oposição sobre o impeachment. O vice apontou a possibilidade de um impedimento como "algo impensável", assim como fizeram os demais integrantes da coordenação.
"Em primeiro lugar, vocês sabem que a presidente está inteiramente tranquila em relação a isso", disse a jornalistas.
Segundo Temer, não há crise política, uma vez que o governo obteve o apoio do Congresso Nacional para aprovar, a duras penas, as prioritárias medidas do ajuste fiscal. O vice-presidente afirmou ainda que a questão econômica está sendo "ajustada".
"Não podemos ter a esta altura, quando o país tem uma grande repercussão internacional, nós não podemos ter uma tese (impeachment) dessa natureza sendo patrocinada por vários setores, nós temos que ter tranquilidade institucional", defendeu o vice.
O governo vem passando por um período de baixa popularidade, impulsionada pelo fraco desempenho da economia e por denúncias de corrupção na Petrobras (SA:PETR4). Soma-se ao cenário uma relação já desgastada com o Congresso Nacional e com o seu maior aliado, o PMDB, partido que é presidido por Temer.
DIGA QUE FICO
Temer afirmou ainda que permanece na articulação política, estando designado pela presidente para ocupar o cargo ou não. Durante a entrevista, ele recebeu o apoio público dos demais ministros presentes na coletiva --Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), Gilberto Kassab (Cidades)-- e ainda do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).
"Essa especulação se vou deixar a articulação política ou não, eu acho um pouco fora de prumo", disse o vice a jornalistas. "O que se espera do vice é que ajude na articulação política."
Para Temer, a atuação da oposição pelo impeachment da presidente é "fruto do momento democrático que vivemos". Ele disse ainda que a oposição ajuda o governo ao criticar e fiscalizar.
Ele negou, no entanto, acreditar que lideranças do PMDB --como os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) e Renan Calheiros (AL)-- estariam envolvidos na discussão sobre um eventual afastamento de Dilma.
"Eu não creio que eles estejam dispostos a isso... não levariam adiante essa hipótese", disse.
Também respondeu comentários de Cunha, feitos na semana passada, de que estaria sendo "sabotado por parte do PT" e por isso deveria deixar a articulação política do governo.
"Não há sabotagem nenhuma, há naturais dificuldades", afirmou o vice, referindo-se aos trâmites administrativos e burocráticos para a liberação de recursos de emendas parlamentares e para a indicação de nomes para cargos do terceiro escalão do governo.
(Reportagem de Maria Carolina Marcello; Edição de Eduardo Simões)