Documentos divulgados pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e obtidos pelo Poder360 neste sábado (20.abr.2024) mostram que o Irã e o Hezbollah, grupo extremista do Líbano, teriam concordado em participar do ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023, data em que cerca de 1.200 israelenses –a maioria civis, foi assassinada.
As informações são de um conjunto de telegramas da embaixada do Brasil em Tel Aviv e do Escritório de Representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia.
Em 22 de outubro de 2023, o embaixador do Brasil junto à Autoridade Palestina, Alessandro Candeas, relatou declarações dadas pelo ex-primeiro-ministro da Palestina, Mohammad Shtayyeh, sobre a questão em um “briefing ao corpo diplomático”. O telegrama foi enviado às representações diplomáticas brasileiras no Oriente Médio. Eis a íntegra do trecho (PDF – 7 kB).
Segundo o texto, Shtayyeh afirmou que houve um encontro entre representantes do Irã, do Hamas e do Hezbollah em 23 de setembro de 2023, em Beirute, no Líbano. Na ocasião, os participantes teriam acordado uma “unidade das frentes de batalha sul do Líbano, Cisjordânia e Gaza”.
“Seria lançado um ataque com 3 objetivos: sabotar as negociações do acordo de normalização entre a Arábia Saudita e Israel, erodir a legitimidade da Autoridade Palestina e criar caos em capitais e cidades da região”, relata o telegrama.
No entanto, o documento também diz que o Hamas teria sido “traído” já que “o Irã não participou da ação contra Israel, nem o Hezbollah”.
Depois que o Hamas atacou Israel em 7 de outubro de 2023, o Hezbollah e o governo do Irã deram parabéns pela ofensiva. Afirmaram que o grupo extremista tinha “o apoio divino” para realizar a ação e que o episódio “abriu um novo capítulo” na guerra contra a ocupação israelense dos territórios da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Ambos, porém, negam a participação no episódio.
Em 8 de outubro de 2023, o Wall Street Journal noticiou que o Irã ajudou a planejar o ataque contra Israel. Segundo o veículo norte-americano, o aval foi dado durante reunião em Beirute, capital do Líbano, em 2 de outubro do ano passado.
O governo iraniano negou o caso em 9 de outubro de 2023. O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Nasser Kanani, disse a jornalistas na época que “as acusações ligadas ao papel iraniano se baseiam em razões políticas”.
Também afirmou que a república islâmica não intervém “na tomada de decisões de outros países, incluindo a Palestina” e que os palestinos tinham “a capacidade e a vontade necessárias para defender a sua nação e recuperar os seus direitos”.
Já em 3 de novembro de 2023, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou que o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro foi “100% palestino” e que seu grupo do Líbano sabia nada sobre o ato.
“A operação de 7 de outubro foi planejada em total sigilo, mesmo outras facções não tiveram conhecimento dela, muito menos movimentos de resistência no estrangeiro”, disse.
ISRAEL X IRÃ X HEZBOLLAH
Além do Hamas, o governo israelense também protagoniza conflitos contra o Irã e o Hezbollah. Em 13 de abril, as forças iranianas lançaram um ataque com drones e mísseis contra Israel. O país afirmou que a ofensiva se deu em legítima defesa contra a suposta “agressão do regime sionista” à embaixada do Irã em Damasco, capital da Síria. Israel revidou o ataque 5 dias depois, em 18 de abril.
Sobre o Hezbollah, os combatentes do grupo têm atacado alvos no norte de Israel em solidariedade ao Hamas desde o início da guerra na Faixa de Gaza. Um dos mais recentes foi realizado na 4ª feira (17.abr) e deixou 14 militares israelenses feridos. Tel Aviv tem respondido, “eliminando” líderes e destruindo infraestruturas do grupo.