Por Tom Perry e Lisa Barrington
BEIRUTE (Reuters) - A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos nesta quarta-feira causou preocupação nos rebeldes da Síria e otimismo contido em Damasco, onde sua vitória foi vista como um desfecho melhor do que um triunfo de Hillary Clinton.
Os rebeldes sírios vêm criticando há tempos, e intensamente, o que lhes parece um apoio inadequado do governo Barack Obama à sua luta contra o presidente da Síria, Bashar al-Assad, embora Washington esteja sendo um patrocinador importante de seu levante.
Embora parte da oposição síria tenha dito que Trump ainda precisa articular uma política clara para seu país, suas colocações e sua mentalidade mais aberta em relação à Rússia, aliada de Assad, provocaram receio nos rebeldes no tocante à postura que ele poderá adotar sobre a guerra, na qual a Força Aérea russa vem bombardeando os insurgentes.
"Acho que as coisas se tornarão difíceis por causa das declarações de Trump e de seu relacionamento com Putin e a Rússia. Imagino que isso não seja bom para a questão síria", disse Zakaria Malahifji, chefe do escritório político de um grupo rebelde sediado na cidade de Aleppo, à Reuters.
Em uma entrevista concedida à Reuters em 25 de outubro, Trump disse que derrotar o Estado Islâmico é uma prioridade maior do que persuadir Assad a renunciar, e alertou que Hillary poderia arrastar os EUA a uma nova guerra mundial em decorrência do conflito na Síria.
Em um de seus debates com a ex-secretária de Estado, Trump disse que "não gosto nada de Assad, mas Assad está matando o Estado Islâmico" com a Rússia e o Irã.
A guerra civil síria, atualmente em seu sexto ano, já matou centenas de milhares de pessoas, permitiu a ascensão do Estado Islâmico e criou a pior crise de refugiados do mundo.
Rússia e Irã vêm providenciando apoio militar direto a Assad, enquanto países que querem vê-lo fora do poder, entre eles EUA, Arábia Saudita, Catar e Turquia, vêm fornecendo ajuda aos rebeldes, inclusive apoio militar.
A intervenção russa a favor de Assad no ano passado ajudou Damasco a virar o jogo contra insurgentes que vinham ganhando terreno continuamente, e deu uma influência decisiva a Moscou em detrimento da diplomacia.
A oposição síria afirma que Obama não soube apoiá-la devidamente depois de pedir que Assad entregasse o poder, sendo incapaz de impor sua própria "linha vermelha" contra o uso de armas químicas e impedindo a entrega de armamento antiaéreo aos rebeldes.
Em Damasco, um membro do parlamento disse estar cautelosamente otimista de que a política dos EUA irá pender para o lado de seu mandatário com Trump. "Precisamos ser otimistas, mas cautelosamente otimistas", disse o parlamentar Sherif Shehada à Reuters em uma entrevista por telefone.
Ele disse que os Estados do Golfo Pérsico – que vêm apoiando a rebelião síria – vinham contando com uma vitória de Hillary e que agora estão em "um apuro".
(Por Tom Perry e Lisa Barrington em Beirute, Kinda Makieh em Damasco e Suleiman al-Khalidi em Amã)