SÃO PAULO (Reuters) - Num mundo em que Superman morreu –como visto no filme “Batman vs. Superman– A Origem da Justiça”, vale tudo. Inclusive os piores criminosos se tornarem um time de justiceiros a serviço do governo. Apostando no encanto ambíguo dos vilões da popular série de quadrinhos homônima, a aventura “Esquadrão Suicida”, de David Ayer, não brinca em serviço.
Com um elenco de peso, o filme não economiza nos efeitos especiais nem na destruição, ressaltados pelo 3D, e ainda tira onda com uma trilha sonora com sucessos retrô.
Quase todos os integrantes deste time do mal são inimigos de Batman (Ben Affleck) – que aparece em algumas cenas, inclusive prendendo um deles, o Pistoleiro (Will Smith), o cara que nunca erra um tiro, mas vacila na hora de atirar no Morcego por causa do pedido de sua filha (Shailyn Pierre-Dixon).
O Pistoleiro, assim, vai parar no presídio de segurança máxima na Louisiana que aparece no começo da história, e onde estão detidos outros malfeitores de alta periculosidade: Arlequina (Margot Robbie), El Diablo (Jay Fernandez), capitão Bumerangue (Jai Courteney) e o Crocodilo (Adewale Akinnuaye-Agbaje).
Mas não está entre os prisioneiros o Coringa (Jared Leto), que funciona na história como elemento perturbador em paralelo, já que não poupa esforços para recuperar Arlequina (que era sua psiquiatra no hospício de onde fugiu). Leto, aliás, deixa para trás seu passado de galã encarnando uma versão do personagem bem mais alucinada do que a vivida pelo falecido Heath Ledger em "Batman: O Cavaleiro das Trevas", de 2008.
Apesar da ficha corrida imensa de todos, justamente por isso são cogitados para integrar um programa ultrassecreto do governo, tocado por Amanda Waller (Viola Davis) –que está enfrentando uma ameaça tremenda com as intervenções da feiticeira Magia, que ocupou como hospedeira o corpo da arqueóloga June Moone (Cara Delevingne). Nem mesmo a posse do coração da feiticeira por parte de Amanda –que o guarda numa caixa sempre ao seu alcance– está conseguindo dominá-la, já que a bruxa consegue aliados para produzir exércitos de seres controlados por ela para instalar o caos e a destruição em Midway City.
Refletindo a ironia amarga deste mundo sombrio, os vilões são convencidos a cooperar com o governo nem tanto pela promessa de redução de suas penas, mas muito mais pela introdução de um mecanismo capaz de explodi-los em seus pescoços –e que pode ser acionado a qualquer momento tanto por Amanda quanto pelo capitão Rick Flag (Joel Kinnaman), que comanda o time marginal.
Flag, no entanto, tem outro interesse pessoal: uma paixão por June e a vontade de arrancá-la das garras da feiticeira.
Misturando esse clima de faroeste delirante e futurista, com um bando de renegados, a um apelo mágico – afinal, alguns dos malvados têm poderes especiais, como o Diablo e suas mãos incendiárias -, o filme de Ayer produz a anarquia barulhenta que se espera de uma aventura inspirada no universo dos quadrinhos.
Alguns atores, como era de se esperar, se destacam e sacodem a aura de malvados – caso de Will Smith, cujo Pistoleiro infalível, afinal, mostra um coração mole aqui e ali e capacidade de empatia.
As personagens femininas têm uma força inusitada em cena, tanto a durona Amanda, que nunca deixa escapar a chance de comprovar que está no comando, quanto Arlequina, que exerce a função de quebrar a seriedade toda vez que parece que o tempo vai fechar com tantos malfeitores juntos. Num duplo papel, Cara Delevingne tem mais chance como a feiticeira, já que sua June Moone mostra-se pouco mais do que uma donzela em perigo. Também interessante é a matadora Katana (Karen Fukuhara), sempre eficientíssima com sua espada de samurai.
Sai o idealismo, entra o pragmatismo sombrio de uma Amanda Waller convencida de que os fins justificam os meios. Batman, no entanto, parece menos disposto a aceitar estas más companhias. Entenda porquê ficando até o final dos créditos do filme, em que se sugere o caminho de uma possível sequência.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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