SÃO PAULO (Reuters) - A certa altura da comédia nacional “Um Suburbano Sortudo”, Sofie (Carol Castro), uma moça rica mas de bom coração, diz ao protagonista, um pobretão que recebeu uma herança: “Eu adoro escatologia”.
Ele não sabe o que significa, então, a garota explica, e começa um festival de gases. Esse é o tipo de humor que permeia o longa dirigido por Roberto Santucci, cuja carreira decolou em 2010 com a direção do primeiro “De Pernas Pro Ar”. Desde então, dirigiu diversos sucessos de bilheteria – como “Até que a Sorte nos Separe” e “O Candidato Honesto” – todos tendo em comum, além das altas arrecadações, um humor de gosto duvidoso.
Rodrigo Sant’Anna, que interpreta o personagem-título, entre outros, é mais conhecido pelos seus trabalhos na televisão (“Zorra Total”), e tem timing e carisma, por isso não precisava se aventurar no cinema com um material tão rasteiro, cujo roteiro é coescrito por ele, L. G. Bayão e Paulo Cursino.
A história é mais do que manjada: sujeito pobre da periferia herda uma fortuna de um pai que nunca conheceu. Seus “parentes” tentam impedir que ele receba a herança. A previsibilidade, no fundo, não é o grande problema aqui – o humor baixo é.
E logo na primeira cena a baixaria dá as caras. Damião (Stepan Nercessian) faz uma investida na sua mulher, que acaba saindo do sofá. Logo chega a empregada (Sant’Anna), que se esfrega nele pedindo favores, em troca de ir para a cama dele. Daí foi concebido Denilson, o protagonista, que ganha a vida como camelô, tem um filho que não assumiu e vive cobrado pela mãe do garoto (Cinara Leal).
Quando chega à casa do pai para a leitura do testamento, Damião é o estranho no ninho, e tudo isso é mostrado pela lente do aumento da comédia escrachada ao extremo. As duas ex-mulheres do falecido, Gogóia (Guida Vianna) e Narcisa (Claudia Alencar), assim como o filho da primeira, Luiz Otávio (Victor Leal), não querem que ele receba a herança. Porém, Sofie, por quem Denilson se apaixona, quer ajudar o rapaz.
Sant’Anna também interpreta os outro membros de sua família –composta de tia, tio, prima e primo–, todos estereótipos exagerados para efeito de humor, mas que, no fundo, soam como uma visão preconceituosa de classe. Todos os pobres do filme são grotescos e interesseiros – embora sejam “gente boa”. Em uma das cenas, Gogóia diz que quer que as classes C e D ascendam, desde que seja longe dela.
“Um Suburbano Sortudo” também tenta fazer sátira da cultura brasileira, com uma moça engraçadinha que aparece numa festa, cantando à la Clarice Falcão, e um cineasta com sotaque paulista carregado chamado Olavinho Salles (Fábio Rabin), cujo filme “Urubus Ao Redor” foi premiado num festival europeu obscuro.
Obviamente, trata-se de uma tentativa de ridicularização do cinema oposto a este praticado aqui – e, por isso mesmo, mais interessante, mesmo não alcançando as bilheterias astronômicas dos filmes de Santucci.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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