SÃO PAULO (Reuters) - No suspense “Invasão de Privacidade”, o personagem de Pierce Brosnan, Mike Regan, é um homem analógico num mundo digital. Isso torna-se claro logo na primeira cena, quando não consegue domar sua cafeteira ultramoderna.
Mas nada disso é problema, dado o simples fato de que ele é rico, muito rico, e pode pagar para que façam as coisas por ele. Magnata da aviação, pretende expandir os negócios com um aplicativo à la Uber, que permitiria a proprietários alugar suas aeronaves.
Os problemas, no entanto, começam logo na apresentação de um vídeo para os funcionários da empresa. Quem “salva” sua vida é o “estagiário de T.I.” Ed Porter (James Frecheville) que, ao consertar o bug da exibição, cai nas graças do patrão, com direito à efetivação, aumento de salário e uma visita à casa de Regan, para consertar o wi-fi que anda lento.
Ed logo se engraça com a filha adolescente de Regan, Kaitlyn (Stefanie Scott), e o óbvio acontece: o patrão não gosta nada disso e compra briga com o ex-estagiário, que mostra que a suposta segurança da casa controlada por tecnologia é apenas uma brecha para infernizar a vida de toda a família.
Dirigido por John Moore (“Duro de Matar: Um Bom Dia para Morrer”), “Invasão de Privacidade” é um techno-thriller que conta com a boa vontade de seu público para engolir, antes de mais nada, a ingenuidade e falta de tato com o mundo digital do protagonista. Ninguém chegaria à posição de Regan com tanta inocência. No entanto, é preciso comprar essa ideia para que o filme funcione, além de aturar uma corrente de clichês mal resolvidos.
Não que a tecnologia não permita que Ed, um perito nisso tudo, possa infernizar a vida da família do ex-patrão, mas o roteiro, assinado por Dan Kay e William Wisher, abusa da boa vontade do lado de cá da tela.
Como a maior parte dos filmes sobre privacidade e segurança na internet, a questão central é que ninguém mais está protegido. Ed tem acesso ao carro, à casa e até à intimidade da família – grava um vídeo da garota no banho. Para lutar contra isso, Regan usará as mesmas armas.
Brosnan é quem dá fôlego ao filme e coloca seu personagem na galeria “Papai Coragem” – cujo exemplar mais forte e reincidente na memória recente é Liam Neeson em seus vários filmes salvando a família. Por outro lado, o australiano Frecheville constrói seu psicopata com muitas caras e bocas e logo se entrega como o grande vilão do filme.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
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