SÃO PAULO (Reuters) - Filme de estreia do ator Nate Parker, “O Nascimento de uma Nação” nasceu de uma vontade tanto de resgatar uma história importante do passado dos EUA – a violenta rebelião de escravos de 1831, liderada por Nat Turner – do ponto de vista de artistas negros, quanto de desafiar a narrativa dominante e racista da história norte-americana, eternizada pelo clássico de 1915 de David W. Griffith, de cujo título Parker apropriou-se, provocativamente, aqui.
Tudo isso, mais a violenta reação do ano passado ao “Oscars so White” – pela ausência de atores e diretores negros da disputa do prêmio em 2015 –, repercutiu para reforçar os holofotes sobre o trabalho de Parker, que saiu consagrado do Festival de Sundance, em janeiro, com uma dupla premiação: Grande Prêmio do Júri na competição de filmes norte-americanos e Prêmio do Público.
A estrada para o Oscar 2017 parecia, então, segura. Até que ressurgiu na mídia a obscura história de um estupro na vida de Nate Parker, em seu passado como estudante universitário – um caso policial que envolvia o co-autor do argumento deste filme, amigo de Parker, Jean Celestin, e que teve idas e vindas na justiça, com absolvição de Parker, condenação e posterior liberação de Celestin e culminou, fora dos tribuinais, com o suicídio da vítima em 2012.
Independentemente da responsabilidade de Parker, o lamentável episódio respinga sobre o filme porque justamente o que deflagra a rebelião de escravos é o estupro de duas escravas, uma, a mulher de Turner, Cherry (Aja Naomi King), outra, a de seu melhor amigo, Esther (Gabrielle Union).
Evidentemente, neste momento, será difícil separar a biografia do realizador da trajetória de seu filme. Falando em termos puramente cinematográficos, “O Nascimento de uma Nação” é potente, tem interpretações seguras, mas o diretor de primeira viagem embarca com muita sofreguidão nos excessos de um tom novelesco para um filme que se pretende uma crônica de vingança. Ganharia muito se se esmerasse mais profundamente em oferecer um contexto mais amplo à transformação de Turner de pastor informal em vingativo líder de rebelião, inserindo mais nuances em seu processo de tomada de consciência.
(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)
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