SÃO PAULO (Reuters) - “Meu pai doma os dinossauros”. É assim que a filha de Mark Williams, personagem real interpretado por Mark Wahlberg, pretende apresentar seu pai em um trabalho escolar para explicar sua profissão: chefe-eletricista da plataforma de petróleo Deepwater Horizon, que dá nome ao thriller de ação “Horizonte Profundo: Desastre no Golfo”.
Com uma lata de Coca-Coca e mel, ele ajuda a garota a explicar com didatismo o processo de perfuração, construção e preparação de uma plataforma, realizada por sua equipe para a extração de petróleo, em uma alegoria que também serve, logo nas primeiras cenas, de prenúncio da catástrofe prestes a ocorrer.
O desastre em questão é a explosão, ocorrida em 20 de abril de 2010, da plataforma da Transocean (NYSE:RIG), a serviço da BP (British Petroleum), que vitimou 11 pessoas – um milagre, se se pensar nas proporções do acidente – e que provavelmente deve vir à memória do espectador por causa do consequente vazamento de petróleo no Golfo do México, que se alongou por meses e tomou conta dos noticiários.
O acontecimento trágico é mais um a ser retratado na filmografia de Peter Berg, que repete a parceria com Wahlberg na história de um militar sobrevivente no Afeganistão e sua equipe na busca por um líder taliban em “O Grande Herói” (2013).
Para o próximo ano, está prevista a estreia de “Dia de Heróis”, sobre os atentados na Maratona de Boston de 2013, que fecha uma espécie de trilogia de heróis reais de eventos recentes. O ator faz esse papel mais uma vez, mas Williams é uma figura heróica comum e involuntária neste caso.
O longa apresenta brevemente a vida dele e de outros funcionários na Louisiana, como Andrea Fleytas (Gina Rodriguez), que embarcam para o seu próximo turno de trabalho na Deepwater Horizon. Mostra a tensão das relações que ali se estabelecem, como entre o chefe da instalação Jimmy Harrell (Kurt Russell) e o engenheiro responsável da BP, Donald Vidrine (John Malkovich).
Neste sentido, é louvável a produção não hesitar em apontar a responsabilidade da companhia petrolífera. Não será difícil para o público brasileiro traçar um paralelo com o rompimento da barragem em Mariana (MG) e imaginar uma versão cinematográfica do pior desastre ambiental do país.
Quanto ao mais grave desastre ocorrido nos Estados Unidos, Berg cria sua espetacularização do evento com a câmera nervosa, luzes piscantes, som atordoante e efeitos visuais que conseguem traduzir a confusão vivida pelos trabalhadores naquela hora, ainda mais em uma sala IMAX. Tanto que chega a ser difícil identificar os personagens a partir do momento crítico, com a lama, o petróleo, as cinzas e a escuridão invadindo a tela – e também pelo fato de o roteiro de Matthew Michael Carnahan e Matthew Sand não dar dimensão a eles, de um modo que tornasse mais claro distingui-los.
Opta-se, então, pela narrativa dos sobreviventes, embora seja dado destaque às perdas humanas no final, sem abordar de fato os danos ambientais decorrentes ou a dependência mundial do petróleo. Mesmo recaindo no sentimentalismo vez ou outra, o cineasta consegue construí-la de forma mais controlada em “Horizonte Profundo” do que a média dos “filmes-desastres”, lidando mais seriamente com uma questão que permeia todos os exemplares do subgênero: a proximidade do fim e como isso afeta, de diversas maneiras, as ações das pessoas.
(Por Nayara Reynaud, do Cineweb)
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