Por Daniel Trotta
HAVANA (Reuters) - Estados Unidos e Cuba discordaram sobre a política de imigração nesta quarta-feira na primeira sessão das negociações de alto nível que pretendem restabelecer as relações diplomáticas entre os adversários da Guerra Fria.
Apesar das objeções de Cuba, os norte-americanos prometeram continuar concedendo a imigrantes cubanos uma condição especial que permite a quase todos que cheguem no território dos EUA permanecer no país, enquanto que cidadãos de outras nações são deportados quando chegam em circunstâncias similares.
As negociações continuarão na quinta-feira, e os dois lados devem discutir o restabelecimento das relações diplomáticas e, eventualmente, a retomada plena do comércio e das viagens.
Os dois dias de reuniões são o primeiro contato desde que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e seu colega cubano, Raúl Castro, anunciaram em 17 de dezembro terem obtido um avanço histórico na retomada das relações depois de 18 meses de negociações secretas.
"Explicamos ao governo cubano que o nosso governo está completamente empenhado em defender o Ato de Ajuste Cubano, que os conjuntos de políticas relacionadas à imigração que são informalmente conhecidos como pé molhado/pé seco permanecerão em vigor", disse a jornalistas o funcionário do Departamento de Estado norte-americano Alex Lee, que liderou as negociações sobre imigração.
De acordo com essa política, os cubanos interceptados por oficiais de segurança dos EUA no mar são devolvidos a Cuba, enquanto que aqueles que pisam no continente são autorizados a permanecer no país.
A autoridade do lado cubano, a representante do Ministério das Relações Exteriores Josefina Vidal, reiterou a oposição de Cuba à lei e à política de imigração dos EUA, dizendo a repórteres que o tratamento exclusivo promove a imigração ilegal, o tráfico humano e perigosas viagens pelo Estreito da Flórida em embarcações frágeis.
Obama abriu caminho para a suspensão das sanções econômicas e do embargo comercial de 53 anos contra a ilha comunista.
"Estamos pondo fim a uma política que já passou há muito do prazo de validade. Quando aquilo que você está fazendo não funciona há 50 anos, é hora de tentar algo novo", Obama disse ao Congresso em seu discurso anual do Estado da União na noite de terça-feira.
Ele também exortou o Congresso a começar a trabalhar para encerrar o embargo, mas críticos afirmam que primeiro Obama precisa obter concessões do governo comunista em relação a presos políticos e direitos democráticos, a apelos de cidadãos norte-americanos cujas propriedades foram nacionalizadas após a revolução cubana de 1959 e a fugitivos norte-americanos que receberam asilo no país vizinho.
"Depois de cinco décadas de governo autoritário e partido único, precisamos reconhecer que os Castro jamais irão relaxar sua mão de ferro sobre Cuba a menos que sejam compelidos a fazê-lo", declarou o senador Robert Menéndez, cubano-americano e democrata pelo Estado de Nova Jersey, em uma carta ao secretário de Estado, John Kerry.
"À medida que o governo busca um maior engajamento com Cuba, exorto o senhor a ligar o ritmo das mudanças na política dos EUA a ações recíprocas do regime dos Castro."
Obama tem a autoridade executiva para restaurar os laços diplomáticos e suspender sanções, mas precisa do Congresso, controlado pelos republicanos, para revogar o embargo econômico.
A delegação dos EUA é liderada por Roberta Jacobson, diplomata norte-americana para a América Latina, que não participou da reunião sobre imigração. Ao desembarcar em Havana nesta quarta-feira, ela se tornou a primeira secretária-assistente de Estado dos EUA a visitar Cuba em 38 anos.