Por Rania El Gamal, Yara Bayoumy e Alex Lawler
DUBAI/WASHINGTON/LONDRES, June 7 (Reuters) – Um dia antes de o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirar seu país do acordo nuclear com o Irã, um de seus principais auxiliares telefonou à Arábia Saudita para pedir que o maior exportador de petróleo do mundo mantivesse o preço estável caso a decisão afetasse o fornecimento.
Riad, arquirrival de Teerã, é aliada de longa data de Washington, mas uma pressão direta sobre um membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) referente às políticas do petróleo é algo raro. A última vez em que Washington pressionou os sauditas a aumentarem a produção foi em 2012.
A Arábia Saudita disse que, embora o preço tenha subido para mais de 80 dólares por barril, o mais alto desde 2014, o mercado ainda não se recuperou de uma crise prolongada. Até o telefonema, autoridades sauditas vinham dizendo que é cedo demais para aumentar a produção.
O reino adotou essa postura em parte porque um preço mais elevado do petróleo cru poderia favorecer a listagem de uma fatia da gigante petroleira estatal saudita Saudi Aramco no mercado esperada para 2019, disseram fontes sauditas da indústria à Reuters.
Por isso alguns colegas da Arábia Saudita na Opep expressaram choque quando o país emitiu um comunicado de apoio horas depois de Washington impor novas sanções a Teerã dizendo estar pronto para elevar a produção para compensar qualquer escassez.
Três fontes com conhecimento do assunto disseram que uma autoridade de alto escalão dos EUA ligou para o príncipe da coroa saudita Mohammed bin Salman antes do anúncio de Trump para ter certeza de que Washington poderia contar com Riad, líder de fato da Opep.
Uma das fontes disse que a ligação ocorreu no dia 7 de maio. As duas outras não especificaram uma data.
Washington receava que as sanções reduzissem as remessas do Irã e fizessem o preço do petróleo subir, disseram as fontes.
Um porta-voz da Casa Branca se recusou a comentar se o telefonema ocorreu.
Uma autoridade saudita graduada tampouco o confirmou, mas disse: "Nós tomamos conhecimento da decisão sobre o JCPOA (Plano de Ação Conjunta Abrangente) antes do anúncio... sempre conversamos com os EUA sobre a estabilidade do mercado de petróleo."
O comunicado saudita em maio ameaçou minar um acordo entre a Opep e seus aliados liderados pela Rússia para reduzir a produção em cerca de 1,8 milhão de barris por dia (bpd), a partir de janeiro de 2017, para reduzir o excesso de oferta e aumentar os preços. O acordo deve expirar no final de 2018.
A Opep se reunirá em 22 de junho e precisa de um consenso de todos os membros para mudar oficialmente sua diretriz sobre a produção.
(Reportagem adicional de Timothy Gardner, em Washington, e Steve Holland)