Por Haider Kadhim
KERBALA, Iraque (Reuters) - A reunião de milhões de muçulmanos xiitas em santuários e mesquitas pelo Iraque para o ritual religioso de Ashoura transcorreu sem grandes ataques nesta terça-feira, após a segurança ter sido reforçada para evitar o caos de peregrinações passadas.
A presença de militantes radicais do Estado Islâmico que tomaram o norte do Iraque neste ano aumentou os temores de mais violência em uma época de aglomeração de multidões.
Apesar de não terem ocorrido grandes ataques, sete peregrinos que retornavam da cidade de Kerbala morreram em ataques separados com bombas em Latifiya, 40 quilômetros ao sul de Bagdá, disseram fontes médicas e da polícia.
Na Arábia Saudita, homens armados mataram pelo menos cinco pessoas, informou a agência de notícias estatal SPA, o que foi classificado pelos moradores locais como um ataque contra fiéis xiitas na segunda-feira à noite, prejudicando as relações já tensas entre sunitas e xiitas em todo o Oriente Médio.
O Estado Islâmico, considerado mais implacável do que seu antecessor no Iraque, a Al Qaeda, acredita que os xiitas são infiéis que merecem ser mortos, e o grupo já reivindicou responsabilidade por diversos atentados suicidas contra membros da seita majoritária iraquiana.
A segurança para o evento tem sido reforçada desde que homens-bomba da Al Qaeda e disparos de morteiros mataram 171 pessoas durante a Ashoura em 2004 em Kerbala e Bagdá.
Os xiitas estão homenageando a morte de Hussein, neto do profeta Maomé, na batalha de Kerbala em 680 d.C.
Na cidade sagrada de Kerbala, centenas de milhares de peregrinos se reuniram fora do Santuário do Imã Hussein cantando: "Hussein, Hussein, Hussein".
Durante o ritual, os xiitas batem em suas cabeças e peitos e ferem suas cabeças com espadas para mostrar seu luto e ecoar o sofrimento do imã Hussein.
No passado, suicidas se passaram por peregrinos infiltrados em grandes multidões, e militantes dispararam salvas de morteiro em aglomerações nos arredores de Kerbala.
Sob o governo secular de Saddam Hussein, tais manifestações religiosas eram proibidas no Iraque, que era governando principalmente por sunitas e pelo partido Baath.
Desde que o ditador foi derrubado em 2003, xiitas dominam os governos no Iraque, mas abertamente praticar a fé em grandes multidões coloca a seita majoritária em risco de sofrer atentados de grupos radicais sunitas.
Ataques do Estado Islâmico contra xiitas ajudaram a colocar a violência no país de volta aos alarmantes níveis vistos em 2006 e 2007, quando a guerra sectária estava em seu auge.
Durante o ritual em Kerbala, xiitas falavam em tom desafiador, apesar dos novos perigos representados pelo Estado Islâmico.
"O Estado Islâmico não pode nos impedir de vir aqui com sua violência", disse o peregrino Ali Ajaj, de 65 anos.
Sua mulher, Um Mohammed, relembra como os agentes de Saddam Hussein mataram dois de seus filhos, uma tragédia que a deixou mais determinada a praticar sua fé.
"Carros-bombas e explosões do Estado Islâmico não me impedirão de vir."