Gonzalo Sánchez.
Roma, 17 jan (EFE).- Três vezes primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, de 82 anos, anunciou nesta quinta-feira que será candidato nas eleições para o Parlamento Europeu, uma decisão que ocorre em um momento de baixa de seu partido político, o Forza Itália, eclipsado pela ascensão da extrema direita no país.
Em maio, a Justiça italiana reverteu a suspensão dos direitos políticos imposta a Berlusconi. Ele estava impedido de se candidatar a qualquer cargo público em 2019 após ser condenado por fraude.
"Decidi por senso de responsabilidade me candidatar à Europa, onde falta um pensamento profundo sobre o futuro do mundo", disse o veterano político em um comício realizado na cidade de Cagliari.
Deputado europeu entre 1999 e 2001, Berlusconi pediu ajuda divina para conseguir conquistar esse novo objetivo de sua carreira. "Rezo para que Deus me dê força para convencer muitos outros", disse.
Correligionário de Berlusconi, o atual presidente da Eurocâmara, Antonio Tajani, comemorou o anúncio feito pelo ex-premiê.
"Tinha certeza que ele voltaria mais uma vez para defender a liberdade e os direitos dos cidadãos a terem um trabalho, não sendo humilhados por impostos injustos", escreveu Tajani no Twitter (NYSE:TWTR).
Por causa da suspensão dos direitos políticos, Berlusconi não pôde disputar as eleições gerais de 2018 e se limitou a fazer campanha em uma coalizão com a Liga Norte. O partido foi o mais votado das eleições, mas não obteve maioria parlamentar.
O pleito provou que o Forza Itália já não domina mais a direita no país após duas décadas de hegemonia e elevou Matteo Salvini, líder da Liga Norte, como principal protagonista do grupo.
Além disso, Berlusconi teve que ouvir calado o então aliado formar governo com um de seus principais inimigos políticos, o Movimento Cinco Estrelas, uma aliança que o ex-primeiro-ministro considera como "contra natural" e tornou-se alvo de críticas.
"É preciso mudar esse governo, representado por um Movimento Cinco Estrelas guiado por pessoas sem experiências nem competência. São como os senhores da esquerda comunista do 1994", alertou, citando o ano em que decidiu entrar na política.
Quase três décadas depois, enquanto assiste Salvini ocupar todos os cantos da vida política, o polêmico magnata decidiu disputar mais uma vez uma vaga na Eurocâmara, afastando-se da Itália em um momento no qual seu partido foi relegado à quarta força no parlamento.
E Berlusconi promete ter uma atuação reformista.
"Decidi concorrer para levar minha voz de uma Europa que deve ser mudada, estar unida e com uma defesa unida, para poder negociar com outras potências mundiais. Represento uma ideia liberal na política que, na atualidade, destaca a necessidade de defender a Itália, a Europa e o mundo", afirmou o ex-primeiro-ministro.
Sumido devido aos problemas na Justiça e pelo envolvimento em diferentes escândalos sexuais, Berlusconi, um político tradicional, tem usado as redes sociais para mostrar seu interesse pelos assuntos que estão no centro das discussões nos países da União Europeia.
Como europeísta, Berlusconi aposta na coesão econômica e fiscal do bloco, na união bancária, na harmonização da política externa e na criação de um sistema de defesa comum na região.
"Só assim nos transformaremos em uma potência mundial que decidirá os destinos do mundo", escreveu no Twitter.
Em outra mensagem, o ex-premiê pede que seus correligionários europeus não se calem diante do avanço do nacionalismo e do populismo, representados na própria Itália pela coalizão governista.
Por esse motivo, uma das maiores preocupações de Bersluconi é a saída do Reino Unido da União Europeia.
"Acendo uma vela todas as noites para que eles possam realizar um novo referendo que permita que fiquem na Europa", revelou o veterano político.