Por Dan Williams
JERUSALÉM (Reuters) - Israel está procurando palestinos que não sejam afiliados ao Hamas para gerir questões civis em regiões da Faixa de Gaza designadas como áreas de testes para a administração do enclave após a guerra, disse uma autoridade sênior de Israel nesta quinta-feira.
Mas o Hamas afirmou que o plano, que segundo a autoridade israelense excluiria qualquer um que estivesse na folha de pagamento da Autoridade Palestina, que é reconhecida internacionalmente, efetivamente significaria uma reocupação israelense de Gaza e estaria destinado a fracassar.
A autoridade israelense afirmou que os planejados “bolsões humanitários” seriam em distritos da Faixa de Gaza dos quais o Hamas foi expulso, mas que o sucesso deles acabaria dependendo de Israel atingir seu objetivo de destruir o grupo islâmico em todo o minúsculo território que ele tem governado.
“Estamos procurando as pessoas certas para assumir a responsabilidade”, disse a autoridade à Reuters, sob condição de anonimato. “Mas está claro que levará tempo porque ninguém vai se prontificar se achar que o Hamas colocará uma bala na sua cabeça.”
O plano, acrescentou a autoridade, “pode ser concretizado quando o Hamas for destruído e não representar uma ameaça para Israel ou aos habitantes de Gaza”.
A emissora de televisão Canal 12, de maior audiência de Israel, informou que o bairro de Zeitoun, no norte da Cidade de Gaza, era um candidato para a implementação do plano, pelo qual comerciantes locais e líderes comunitários distribuiriam auxílio humanitário.
Os militares israelenses forneceriam segurança periférica em Zeitoun, disse o Canal 12, descrevendo novas incursões de tropas naquele local esta semana como designadas a eliminar os remanescentes de uma guarnição do Hamas que foi duramente atingida nos estágios iniciais da guerra.
Não houve confirmação oficial da reportagem do Canal 12.
“SINAL DE CONFUSÃO”
Questionado sobre os comentários da autoridade israelense e da reportagem do Canal 12, a autoridade sênior do Hamas Sami Abu Zuhri disse que um plano como esse seria equivalente à reocupação de Gaza por Israel, que retirou suas tropas e assentamentos do local em 2005. Israel diz que terá controle de segurança indefinido sobre Gaza após a guerra, mas nega que seria uma reocupação.
“Estamos confiantes que este projeto é inútil e um sinal de confusão e nunca será bem-sucedido”, disse Abu Zuhri à Reuters.
A autoridade israelense também deixou claro que a Autoridade Palestina, que exerce um governo autônomo limitado na ocupada Cisjordânia, também estaria proibida de ser parceira dos “bolsões humanitários” porque não condenou o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro.
Segundo Israel, os militantes mataram 1.200 pessoas e fizeram 253 reféns nesse ataque, o que levou a uma ofensiva terrestre israelense e a um bombardeio aéreo de Gaza, em que morreram cerca de 30.000 pessoas, segundo as autoridades de saúde de Gaza.
"Qualquer um que tenha participado ou não tenha condenado o dia 7 de outubro está excluído", afirmou a autoridade.
Wassel Abu Yousef, autoridade sênior da Organização para a Libertação Palestina, da qual a Autoridade Palestina faz parte, também pareceu desdenhar do plano israelense nesta quinta-feira.
“Toda as tentativas de Israel de mudar as características geográficas e demográficas de Gaza não terão sucesso”, disse à Reuters.
(Reportagem adicional de Nidal al-Mughrabi)